Director do grupo teatral Os Meninos de Ouro

NÃO EXISTE VALORIZAÇÃO DO TEATRO A NÍVEL DOS BAIRROS

Para sabermos sobre o estado de teatro nos bairros, sua evolução e dificuldades, entrevistamos o  director do grupo teatral Os Meninos de Ouro, alusivo ao 27 de Março.

 O actor lamentou a fraca valorização desta arte nas zonas periferias.

Rafael José Baptista começou na arte da representação, com 12 anos, na província da Huila.Em 2007,  Rafael Baptista,  vem para Luanda. 

Um ano depois, há 25 de Março, cria o grupo teatral “Os Meninos de Ouro”, no bairro Antonov 57, (vulgo Catinton), no município da Maianga.

A princípio, o grupo tinha como objectivo formar  bons actores, dada a experiência acumulada.

 Katchilingue Natchimwe, como é conhecido no mundo das artes, após a criação do grupo, convidou outros jovens do seu bairro para fazerem parte do elenco, como é o caso de Leal Dos Prazeres e Caiando Emuliata (de feliz memória).  

O mesmo conta, que encontraram várias dificuldades, mas ainda assim, continuaram focados em alcançar os seus objectivos.

‘‘Fazer teatro no bairro é difícil porque não há apoio, é tudo por conta própria, mas é satisfatório porque tenho noção que consegui tirar algumas pessoas do mundo da delinquência e levá-las para o mundo da arte’’, satisfeito contou Rafael.

Para o profissional, em celebração de mais um dia internacional do teatro, seria satisfatório ver o reconhecimento desta arte nos bairros, pois é uma forma que os jovens encontram para abandonar o mundo do crime. ‘‘Teatro é vida’’.

‘‘Não existe valorização do teatro a nível dos bairros’’, garantiu o entrevistado, e segundo ele, se assim fosse, o sector administrativo estaria envolvido, daria importância aos fazedores desta arte, coisa que não acontece.

‘‘Para não esperarmos que os outros nos valorizem, preferimos criar a nossa arte e darmos a ela o devido valor!” exclamou.

Actualmente, a intenção do grupo é acrescentar mais membros, e além de fazer teatro, dedicar-se com maior destaque as causas sociais dentro da comunidade.

Temas como a fuga a paternidade, dificuldades no ensino e aprendizagem, delinquência e prostituição, são os mais representados pelo grupo.

Rafael Baptista afirma que,  para os encarregados de educação a reação tem sido positiva, porque de certa forma, com esta organização cultural, ajudam a educar os seus filhos, que muitas vezes têm um comportamento anormal, mas quando entram para o grupo Os Meninos de Ouro, com o tempo apresentam postura  diferente.

‘‘E nós não apostamos apenas na arte, mas também na educação, porque procuramos acompanhar o desempenho deles na escola, e isso faz com que os pais sintam que os filhos estão seguros’’, acrescentou o director.

O grupo que começou com apenas duas pessoas, hoje contam com mais membros, e expandiu-se também no bairro Dangereux.

Quando questionado sobre o que esta data trará de novo, o director do grupo Os Meninos de Ouro, respondeu que continuarão apostando nos adolescentes e naquilo que é a arte, e alertou aos amantes do teatro a não se limitarem em esperar alguma coisa porque nem sempre acontece.

Baptista, reclamou da dificuldade em conseguir um espaço para apresentarem as suas actividades, e quando há aparece, têm de pagar, por isso, neste dia mundial do teatro apela o governo local, a olhar para os espaços livres nos bairros, para ceder aos fazedores da arte, pois seria uma mais valia.

‘‘Na maioria das vezes temos de ensaiar em casa de alguns actores, quanto as actividades, hoje nos consideramos um grupo de representação de rua, por não termos um espaço específico para representar’’, disse ele.

Quanto ao “caché”, Katchilingue alega não ser muito, e que ainda não é suficiente para viver desta arte, mas que felizmente já existem pessoas que valorizam, e veem o quão sacrificado é, mas quando se fala do preço uns concordam, mas a maioria quer de graça.

O grupo, já foi mais solicitado para eventos fora do bairro, como na inauguração da “Quiosque da Tourada”, no Cassequel, em eventos de partidos políticos e outros, mas actualmente, isso não acontece com frequência.

‘‘Para mim é apenas um dia normal em que vamos festejar e reconhecer que valeu a pena apostar no teatro’’, salientou o actor, olhando para o 27 de Março, uma data dedicada ao teatro a nível internacional.

Sobre as vantagens e desvantagens do teatro, preferiu falar apenas do positivo.

  ‘‘O teatro te dá a vantagem de ser o que tu quiseres através dos personagens que interpretas’’.

Para os que não dão importância ao teatro, Rafael Baptista deixou a seguinte mensagem, ‘‘estão a perder’’.

O actor, alertou os pais a incentivarem os filhos a fazerem teatro, porque o teatro abre a mente.

Para os que gostam da arte, o director incentivou a continuarem porque o teatro é vida, “faz-nos sentir bem, e levarmos a vida de animo leve”.

Redacção Ponto de Situação

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