Impacto das políticas públicas ambientais no efeito das alterações climáticas

ANALISTA POLÍTICO APELA MAIOR INVESTIMENTO NA ENERGIA SUSTENTÁVEL

O analista político José Luvumbo defende que o grande desafio que o mundo enfrenta é fazer com que os países emitam o mínimo de carbono possível e para isso, defende o investimento em energia sustentável,  uma meta que, a seu ver, Angola ainda está muito distante de atingir, por depender fundamentalmente do petróleo.

Estudos apontam que as alterações climáticas são variações que ocorrem no ambiente, na atmosfera e nos padrões de precipitação, e que persistem durante décadas ou por períodos ainda mais longos. Essas alterações podem resultar de causas naturais, de forças externas ou de actividades humanas que afetam a composição da atmosfera.

Segundo José Luvumbo, uma das principais causas das alterações climáticas é a emissão de gases de efeito estufa na natureza, resultante da exploração do petróleo. Essa emissão origina o aquecimento global, a degradação da biodiversidade e o aumento do nível do mar, um dos fenómenos mais significativos em todo o mundo.

José Luvumbo salientou que as nações de todo mundo estão preocupadas com as alterações climáticas, pois nenhuma delas está  salvo.

Trazendo para o contexto angolano, alertou que a região sul de Angola é a que mais sofre com essas alterações, sobretudo devido ao fenómeno da seca.

“O país tem de se preparar melhor, principalmente no que diz respeito à transição energética, pois sabemos que um dos principais compromissos do Acordo de Paris é alcançar uma economia sustentável com baixa emissão de carbono. Isso significa que o nosso governo precisa investir mais em energia sustentável”, afirmou.

O entrevistado acrescentou que Angola ainda está longe de alcançar um nível eficaz no combate aos efeitos das alterações climáticas.

Analisando a situação da Europa, o analista comentou que a Suécia é um dos países mais avançados, especialmente no que diz respeito às energias sustentáveis, solução apontada pelo Ocidente e pelos Estados Unidos da América como a principal forma de combater as alterações climáticas.

“O grande objevtivo é fazer com que os países emitam o mínimo possível de carbono. Para isso, é necessário investir em energia sustentável, e Angola está ainda muito longe dessa meta, pois o nosso país continua a depender do petróleo”, disse.

Medidas para o combate dos efeitos das alterações climáticas

Sobre os desafios e as medidas a serem tomadas para o combate às alterações climáticas, citou o Acordo de Paris como o principal vetor a nível internacional.

Para José Luvumbo, africanos, asiáticos, europeus e americanos têm duas grandes preocupações: a primeira está relacionada com o investimento massivo em energia sustentável; a segunda, com a forma como os países com pouca capacidade industrial poderão fazer um investimento de grande dimensão sem comprometer a sua economia.

“Nós temos um orçamento sustentado pelo petróleo. Como vamos retirar esse dinheiro do petróleo para investir em energia sustentável, sem afectar o nosso programa orçamental?”, questionou o entrevistado em declarações ao Portal Ponto de Situação.

O especialista disse que, apesar de estar a viver uma crise energética, a Europa está bastante avançada nesse aspecto.

“Economia com baixa emissão de carbono e menos dependência do petróleo, pois os países que dependem muito desse recurso são os que mais sofrerão com essa transição”, afirmou.

José Luvumbo afirmou que, na Europa, já se fala em carros elétricos em massa e em não usar gás para cozinhar, o que significa que a energia será utilizada para tudo. “São países para os quais nós vendemos o petróleo para sustentar o nosso orçamento”, destacou, acrescentando que isso deve ser motivo de preocupação.

Quanto ao acesso da população angolana a essa informação, o entrevistado salientou que o país precisa investir mais em educação ambiental. O interlocutor  acredita que, ao olhar para o fenómeno climático em Angola, muitas pessoas pensam apenas em plantar uma árvore para obter ar puro, mas explicou que a questão vai muito além do que se vê.

“A nossa população está alheia a esta situação porque essas informações não são divulgadas. Aqui em Angola, quando se fala dos efeitos das alterações climáticas, fala-se apenas da seca, e pouco se aborda o verdadeiro objectivo deste fenómeno”, sublinhou.

O especialista defendeu que é necessária uma maior divulgação por parte dos órgãos de comunicação, assim como campanhas específicas do governo angolano, com o objectivo de promover informações para que a juventude compreenda o que é, de facto, a alteração climática.

Segundo José Luvumbo, é essa geração que vai viver as mudanças dentro de suas casas, substituindo fogões a gás por fogões elétricos, carros a combustível por carros elétricos,  e, por isso, deve estar bem informada.

Consequências das alterações climáticas

Para o entrevistado, infelizmente todos hoje vivemos as consequências deste fenómeno, como foi o caso do Japão, onde, em 2020, o governo teve de fornecer aparelhos de ar-condicionado à população devido às mortes causadas pelo calor excessivo.

“Em Angola, além da seca no Namibe, Moxico, Cuando Cubango e Cunene, também vivemos o fenómeno do aquecimento. Veja que hoje, em Luanda, quando são 10h00, parece que são 13h00, porque o aquecimento aumentou. Estamos a falar de temperaturas médias entre 30ºC e 32ºC, o que é muito”, apontou.

Segundo José Luvumbo, outra consequência pouco abordada é a variação no preço do petróleo. Do seu ponto de vista, isso ocorre porque alguns países consumidores estão a substituir a energia do petróleo pela energia sustentável, o que faz com que os países produtores enfrentem as consequências dessa transformação. Outra consequência que enumerou  são os incêndios florestais que ocorrem com frequência.

Soluções

De início, José Luvumbo apontou a união das nações e uma visão comum como essenciais para alcançar os objectivos.

O nosso convidado indicou que, para Angola, uma das grandes soluções está na Sonangol, empresa responsável pelas questões petrolíferas no país, e que, assim como a Total, deve fazer um grande investimento em energia sustentável.

“Assim como construiu refinarias, que construa também centros de energia solar e eólica, para que a nossa energia impacte positivamente o orçamento geral do país e contribua para uma economia sustentável com baixa emissão de carbono”, aconselhou.

A união entre os partidos políticos e a sociedade civil, bem como projetos que reflitam no futuro da geração mais jovem, foi também apontada como uma das soluções.

“Este fenómeno climático vai afectar mais a nós, jovens, por isso devemos nos preocupar, porque daqui a dez anos ou mais a Europa já não vai querer saber de petróleo, e, se não tivermos capacidade, nós, os jovens a partir dos 20 anos, sofreremos as consequências”, alertou.

Para finalizar, José Luvumbo afirmou ser importante investir na informação e que o governo deve preocupar-se em manter a juventude informada sobre os efeitos das alterações climáticas, pois ‘‘hoje vivemos o aquecimento, amanhã não se sabe o que virá!’’.

Leia também: SERVEM APENAS PARA DISTRIBUIR OXIGÉNIO?

Redacção Ponto de Situação

comentário como:

comentário (0)