
É como se um buraco no coração tivesse sido curado
APÓS 44 ANOS: MÃE REENCONTRA FILHA SEQUESTRADA EM CIRCUNSTÂNCIA INESPERADA
- por Redacção --
- Wednesday, 28 May, 2025
Uma menina de seis anos, sequestrada por uma cidadã na Coreia do Sul, de seguida levada ao Estados Unidos da América, foi encontrada pela mãe, 44 anos depois, após um trabalho investigativo, onde juntou-se “várias peças”.
Segundo informações, Kyung-ha, tinha seis anos na época, estava a brincar perto de casa quando foi abordada por uma mulher que alegava conhecer sua mãe e dizia que Han “não precisava mais”dela.
Dados revelam que a menina foi levada para uma estação de trem e após viajar com a mulher foi abandonada no ponto final. Foi encontrada por policiais e colocada em um orfanato. De lá, foi levada de avião para os Estados Unidos da América para ser adotada por um casal na Virgínia.
“Eu estava indo ao mercado e perguntei a Kyung-ha: Você não vem? Mas ela disse-me: Não, eu vou brincar com meus amigos”, lembrou Han.
“Quando voltei, ela havia sumido”, disse a mãe.
No dia do tão esperado encontro, enquanto se abraçavam, a mãe passava os dedos pelos cabelos da filha.
“Sou cabeleireira há 30 anos. Consigo dizer rapidamente se é minha filha só de sentir o cabelo dela. Eu tinha pensado erroneamente que a tinha encontrado antes, então tive que tocar e sentir o cabelo para confirmar”, afirmou.
A primeira coisa que ela disse à filha foi: “Sinto muito”.
“Eu me senti culpada por ela não ter conseguido encontrar o caminho de casa quando era criança. Fiquei pensando no quanto ela devia ter procurado pela mãe... Encontrá-la depois de todos aqueles anos me fez perceber o quanto ela devia ter sentido falta da mãe, e isso partiu meu coração”.
“É como se um buraco no coração tivesse sido curado, você finalmente se sente uma pessoa completa”, disse Kyung-há.
A dupla finalmente conseguiu juntar as peças do que aconteceu naquele dia de Maio de 1975.
Anos depois, ela recebeu documentos falsos, em que era identificada como órfã de pais desconhecidos e registrada no novo país como Laurie Bender, onde actualmente (2025) trabalha como enfermeira.
“É como se você estivesse vivendo uma vida falsa e tudo o que você sabe não é verdade”, disse Kyung-ha em entrevista.
De referir que o reencontro aconteceu em 2019, após um teste de DNA realizado pelo grupo 325 Kamra, que conecta pais sul-coreanos a filhos adotados no exterior.
Seu caso estava longe de ser isolado.
Em Março concluiu que sucessivos governos cometeram violações ao falharem na fiscalização do programa, permitindo que agências privadas “exportassem em massa” crianças com fins lucrativos em escala industrial.
As descobertas, na visão de especialistas, podem abrir caminho para a abertura de novos processos contra o governo.
O caso de Han, que deve ir a julgamento no próximo mês, é o primeiro em que um parente de sangue de alguém adotado em outro país reivindica indenização do governo.
'Comércio de crianças' da Ásia para o Ocidente
O programa de adoção internacional da Coreia do Sul teve início logo após o fim da sangrenta, “guerra civil na Coreia do Sul, que se estendeu entre 1950 e 1953 e deixou o país empobrecido, com cerca de 100 mil crianças órfãs e deslocadas.
O governo anunciou o programa de adoção internacional como um esforço humanitário, sob o argumento de que poucas famílias locais estavam dispostas a acolher as crianças que tinham perdido seus parentes.
O programa era administrado inteiramente por agências de adoção privadas que, apesar de estarem sob supervisão governamental, com o tempo ganharam autonomia significativa por meio de novas leis.
À medida que seu poder crescia, também crescia o número de crianças enviadas ao exterior, aumentando na década de 1970 e atingindo o pico na década de 1980. Somente em 1985, mais de 8.800 crianças foram enviadas ao exterior.
Houve uma demanda enorme do Ocidente com a queda nas taxas de natalidade e menos bebês para adotar internamente, as famílias começaram a buscar crianças em outros países.
Fotos daquela época mostram aviões lotados de crianças coreanas, com bebês embrulhados e presos aos assentos o que o inquérito da Comissão da Verdade e Reconciliação chamou de "transporte em massa de crianças como carga".
O relatório alega que pouco cuidado foi tomado com essas crianças durante esses longos voos. Em um caso citado de 1974, uma criança com intolerância à lactose foi alimentada com leite durante o transporte e posteriormente morreu ao chegar à Dinamarca.
Críticos do programa há muito questionam por que tantas crianças precisavam ser enviadas para o exterior em um momento em que a Coreia do Sul já vivenciava um rápido crescimento económico.
Um documentário do programa Panorama da BBC de 1976 que apresentou a Coreia do Sul como um dos vários países asiáticos que enviavam crianças para o Ocidente, citou um observador que descrevia a situação como "fora de controle" e "quase como um comércio de crianças... fluindo da Ásia para a Europa e a América do Norte".
De acordo com o relatório da Comissão da Verdade e Reconciliação, agências estrangeiras de adoção estabeleceram cotas para crianças, que as agências coreanas cumpriram de bom grado.
Era um negócio lucrativo, a falta de regulamentação governamental permitia que as agências coreanas cobrassem grandes quantias e exigissem taxas ocultas, chamadas de "doações".
Algumas dessas crianças podem ter sido obtidas por meios inescrupulosos, afirmam parentes como Han, que alegam que seus filhos foram sequestrados. Nas décadas de 1970 e 1980, milhares de crianças desabrigadas ou abandonadas foram recolhidas e colocadas em orfanatos ou centros de assistência social como parte de uma campanha nacional para "limpar as ruas" da Coreia do Sul.
Outros pais foram informados que seus bebés adoeceram e morreram, quando, na verdade, estavam vivos e foram levados para agências de adoção. As agências também não obtiveram o consentimento adequado das mães biológicas para levar seus filhos para adoção, de acordo com o relatório.
O documento também apontou que as agências de adoção falsificaram deliberadamente informações em registros de adoção para economizar tempo e atender rapidamente à demanda por crianças.
Décadas depois, isso criou imensas dificuldades para muitos adotados no exterior que tentaram localizar seus pais biológicos.
Alguns têm informações incorretas ou ausentes em seus registros de adoção, enquanto outros descobriram que receberam identidades totalmente falsas.
Redacção Ponto de Situação