Vestígios de uma vida de escravidão

ÁFRICA NA SOMBRA DO COLONIALISMO

Durante o discurso de abertura do Diálogo Político de Alto Nível, que decorreu na passada sexta-feira, dia 30, o Secretário Geral das Nações Unidas afirmou que o legado do colonialismo trava o potencial energético de África.

Na abertura do Diálogo Político de Alto Nível da série de Diálogos sobre África, com o tema “Justiça para os africanos e pessoas de ascendência africana por meio de reparações”, o Secretário Geral da ONU, António Guterres, lançou um apelo para que África ocupe o seu lugar de direito como potência mundial de energia limpa.

“A exploração secular dos recursos naturais do continente, que alimenta conflitos e miséria deve acabar”, afirmou o líder.

De acordo com Guterres, África abriga 60% dos melhores recursos solares do mundo e cerca de um terço dos minerais essenciais para a revolução das energias renováveis. No entanto, possui apenas 1,5% da capacidade solar global instalada e cerca de 600 milhões de africanos permanecem sem energia eléctrica.

“Os países e comunidades africanas estão a ser empurrados para o fundo da cadeia de valor de minerais essenciais, enquanto outros se aproveitam desses recursos”, alertou o chefe das Nações Unidas.

O líder acrescentou também que a forma como a extração de recursos ocorre no presente é uma manifestação de um passado de exploração colonialista, que precisa ser combatida.

As “injustiças colossais” causadas pela escravidão, pelo tráfico transatlântico de escravos e pelo colonialismo foram ignoradas e deixadas sem resposta por muito tempo e continuam a criar “distorções”, salientou Guterres e acrescentou que quando os países africanos conquistaram a independência, “herdaram um sistema construído para servir os outros, não a si mesmos”.

Para Guterres, os actuais conflitos e desafios de governança do continente refletem “a longa sombra do colonialismo” sobre a África. Enfatizou ainda que medidas de justiça reparatória são cruciais para corrigir “erros históricos, enfrentar os desafios actuais e garantir os direitos e a dignidade de todos” e defendeu a participação das comunidades afectadas, para alcançar a responsabilização e a reparação.

De acordo com Secretário Geral, a comunidade internacional precisa de agir com “honestidade e justiça” para transverter os legados da escravidão e do colonialismo em parcerias igualitárias e respeitosas.

Essa transformação deve fazer com que as nações africanas “ocupem o seu devido lugar na tomada de decisões globais” e ajudem a garantir que todos os africanos, e a diáspora, tenham a oportunidade de prosperar.

Guterres admitiu que o mundo atravessa um período “turbulento”, marcado por barreiras comerciais, “cortes profundos” na assistência humanitária e questionamentos sobre a própria cooperação internacional.

Mesmo nesse cenário, afirmou que é preciso “continuar a lutar por uma representação justa dentro das instituições internacionais”, incluindo uma representação africana permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O líder da ONU também requereu “compromissos concretos” em relação às dívidas externas, para reduzir o custo dos empréstimos, reestruturar as contas e evitar que novas crises se instalem nos países africanos.

 

Redacção Ponto de Situação

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