LUANDA

OBRA ABANDONADA NO BAIRRO SEIS: PONTO DE PROSTITUIÇÃO PARA ADOLESCENTES

 

Em busca pela sobrevivência, raparigas com idades compreendidas entre os 14 e 17 anos, envolvidas no negócio de “troca do corpo pelo dinheiro”, há anos que desenvolvem tal prática, em uma obra abandonada  no bairro Seis, antigo território do município de Viana, actualmente parte dos Mulenvos.

Por: Angelina Katchama

As adolescentes, que as noites se dirigem naquele ponto, muitas são provenientes de diferentes zonas deste município da província de Luanda, com realce para as do bairro Seis.

Em busca de  mil kwanzas por cada cliente, as mesmas procuram diversas formas de “sedução”, de modo, a que cheguem em casa com o sentimento de dever cumprido: ter dinheiro na bolsa.

Olhando para a obra abandonada, sem tecto, com capim por fora, lixo em alguns cantos e pior, sem portas e nem janelas, conforme mostra a imagem,  muitos não fazem ideia, que é naquele  ponto, no período nocturno, onde as adolescentes satisfazem as necessidades dos clientes.

No princípio, para algumas era difícil enfrentar o ambiente, onde muitas envolvem-se ao mesmo tempo com homens diversos, muitos dos quais, mal conhecem: cada uma no seu canto.

O tempo, o uso de bebidas alcoólicas e drogas para algumas, foi e tem sido o  remédio que encontraram para superar a vergonha de encarrar a realidade, onde nem sempre conseguem voltar nos aposentos com o dinheiro almejado.

Uma das fontes, com quem mantivemos contacto, confessou, que o local não é seguro, sob pena de serem assaltadas ou abusadas sexualmente, por isso, ao “Segurança” do perímetro, pagam 200 kwanzas por cada cliente,” para que possa protegê-las, enquanto desenvolvem o seu “trabalho”.

" Nunca foi meu desejo, mas, são as necessidades ", confessou uma das adolescentes que diz lutar pela sobrevivência, “vendendo o corpo”, para jovens e adultos, para no final conseguir algum valor para levar em casa.

Avozinha, de 14 anos de idade, moradora do bairro Seis, disse que começou cedo na prostituição, mas nunca faltou conselhos da família para que deixasse. Todavia, a influências das amizades a fizeram prosseguir.

Solange, nome fictício, residente no bairro Caramba,  localizado a norte do município  de Viana, descreve que abraçou a prostituição, por ser  órfã  de pai e mãe. Como pretendia estudar, para ser jornalista,  por falta de apoio optou em começar  a namorar mais cedo.

Numa destas relações, engravidou e o companheiro não assumiu as suas responsabilidades. Dada as diversas dificuldades foi procurando formas de sobrevivência.  “Daí, passei a frequentar a Vila de Viana, onde conheci,  As Perigosas,  grupo de mulheres prostitutas”, contou à reportagem do Ponto de Situação.

As meninas que fazem do sexo como fonte de rendimento, dizem não  terem várias alternativas e com tristeza, afirmam que sofrem criticas regulamente pelo caminho que optaram em seguir, mas aconselham as pessoas ajudá-las em deixar esta vida, que não tem sido fácil.

" Tudo que eu quero é abandonar.  Por favor ajudem-me! Já  não  sei como fazer”, clamou adolescente Maria.

Questionadas sobre as razões que as  leva a não deixar a prostituição, umas garantiram que tem a ver com a facilidade em conseguirem dinheiro, por existir clientes que pagam o que pedem, sobretudo, quando as conduzem em outros pontos ao gosto do homem. Outras, dizem que tem outros factores, que se recusaram a revelar.

Fomos a fundo e descobrimos que algumas, também trabalham para outras pessoas (homens e mulheres), que fornecem clientes. Estes indivíduos, as ameaçam a prosseguir,  para que não sofram represálias, por conhecerem alguns segredos do grupo.

O psicólogo José  Kalunda,  considera  o fraco acompanhamento dos pais, como uma das principais causas do aumento da  prostituição  no país.

O profissional, também apontou a falta de sensibilização das Igrejas, que em vez de transmitirem valores, muitas falam maioritariamente de dinheiro, o que de certa forma dificulta no cumprimento do verdadeiro papel da instituição religiosa.

" É realmente, necessário que o Estado, faça alguma coisa. Aliás, já teria feito "disse.

Para o sociólogo Pedro Walha, existem várias causas da prostituição. Destaca a extrema pobreza, frustração, transtornos psicológicos e a falta de diálogo na família.

Os especialistas, exortam que se faça um trabalho colectivo, de modo a que se ajude as adolescentes envolvidas na prostituição, a largarem e apostarem em  outras acções consideradas de  dignas.

Redacção Ponto de Situação

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