ANÁLISE DO CONFLITO

CAMINHOS PARA A PAZ NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO

A escalada de violência, na República Democrática do Congo (RDC), que retomou em 2021 com o apoio do Ruanda, tem gerado receios de uma instabilidade generalizada num dos países mais assolados por conflitos em África, facto que tem mobilizado  figuras do continente e não só,  a unirem ideias e esforços para o fim da guerra.

A República Democrática do Congo possui vastos recursos naturais, incluindo metais e minerais como ouro, estanho e coltan, essenciais para a produção de telemóveis e baterias para veículos eléctricos. Por estes motivos,  tem atraído olhares do mundo, assim como tem alimentado um ciclo de corrupção e violência com grupos armados e milícias locais. 

Em entrevista ao Ponto de Situação, o estudante de Ciência Política, Hamilton João disse existir várias  razões em volta do conflito entre o M23 e o governo da República Democrática do Congo, e uma delas visa a protecção dos grupos minoritários congoleses de origem ruandesa, ou seja, os ruandeses que na altura do genocídio emigraram para o Leste do Congo, região fronteiriça entre os dois países, alegam que o governo congolês não tem protegido os seus interesses e que ‘‘há discriminação por parte das autoridades’’.

O outro factor que pensa ser o mais lógico, é o ‘‘potencial mineral existente na parte Leste do Congo, por isso, compreende-se o financiamento do Ruanda, que supostamente tem interesses económicos e políticos nesta região’’. 

O finalista em Ciência Política, defende que o Ruanda tem vários objectivos  neste conflito e sustenta a sua afirmação baseando-se  para os relatórios das Nações Unidas, que falam sobre o financiamento das autoridades ruandesas ao M23, cujas acções têm sido fortemente desenvolvidas no Leste da RDC.

Hamilton João citou as   províncias de Goma e os Kivos do Norte e Sul, como sendo as zonas deste país com maior riqueza,  tendo especificado a primeira [Goma], como a  mais rica em termos de coltan,  um recurso muito procurado actualmente  a nível do mundo, usado na produção de smartphones e computadores.

A fonte garante que actualmente o Ruanda é um dos grandes exportadores de coltan em África, apesar de não produzir este recurso, por isso, reforça o interesse  do governo liderado por Paul Kagame na continuidade do conflito.

GENÓCIDIO DO RUANDA 

Sobre a possível participação do governo congolês no genocídio do Ruanda de 1994, como sendo uma das causas do alegado apoio deste país ao grupo armado do M23, como se tem propalado.

O estudante disse ser difícil confirmar esta afirmação, porque há outras razões que ditam quem realmente foram os grandes influenciadores deste problema,  “porque o grupo que mais sofreu com essa hostilização foram os ‘Tutsi’, que fugiram para o Leste do Congo, onde se reproduziram e que hoje querem que o governo congolês os reconheça como um ‘exército unificado da RDC’, pois sentem-se menosprezados”, acresceu.

CAMINHOS PARA O FIM DO CONFLITO

Olhando para a desenvoltura deste conflito, pensa que deve haver diálogo entre todos os intervenientes da guerra,  concretamente da parte do governo congolês, do Ruanda,  “visto como o grande financiador deste conflito”,  e o próprio M23.

Por outro, aconselha o  povo congolês,  no sentido de entender que a solução primária tem de partir do seu lado, por achar que  são eles que sentem o conflito na pele, antes de olharem para as outras nações como a bola de salvação.

“Tem de alavancar esforços, unir-se internamente e criar todas as condições para que um outro intermediário tenha o seu papel mais facilitado”, defendeu, caso contrário, acha ser difícil alcançar a paz esperada.

O interlocutor, busca o exemplo  do conflito que decorreu em  Angola, onde houve a necessidade  dos angolanos sentarem à mesma mesa, para  chegarem ao entendimento, depois de vários acordos realizados, como os de Bicesse e Lusaka, que tiveram como intermediários várias organizações internacionais, sem o sucesso almejado. 

Hamilton João, acresceu que em 2002, os angolanos chegaram à conclusão que, para o fim da guerra, a solução teria de partir internamente e assim aconteceu. 

“Penso que é esta a ideia que deve partir do povo congolês: sentarem, saber concretamente o que querem para a RDC e só assim,  chamarem à mesa outros mediadores para que haja a paz”, exortou. 

Hamilton, destaca o papel de Angola neste conflito e garante  que tem feito a sua parte, como um grande intermediário a nível da região Austral, pelo que sugere ao presidente Félix Antoine Tshisekedi Tshilombo, a ter o país como principal aliado.

A fonte espera da parte das autoridades angolanas que prossigam com o trabalho que têm desenvolvido, por temer que o agudizar da guerra no  Congo, também deve ser vista como  uma ameaça para o território nacional, por partilharem uma vasta fronteira.  

“Angola tem feito muito na pessoa do Presidente da República João Lourenço, mas não tem tido muito sucesso,  porque os intervenientes do conflito não estão dispostos a abraçar os acordos”, lamentou. 

FALHAS 

O estudante que está prestes a terminar a formação em Ciência Política, chamou atenção para os erros cometidos nas cimeiras realizadas para a resolução do conflito no Congo. A não inclusão  na mesa de diálogo dos representantes do  M23, contribuiu para o fracasso das negociações. 

“Todavia, se este grupo é um grande interveniente no conflito naquela região,  não pode ser posto de parte, tem de haver sensibilidade do governo congolês em trazê-lo à mesa para que haja um diálogo e cheguem a um consenso para o fim do conflito”, rematou.

O estudante de Ciência Política, diz acreditar na paz, e que esta crença parte da máxima de que ‘‘tudo que tem um princípio tem um fim’’, por isso, acredita se  houver esforço por parte dos partícipes, a  paz será conquistada. 

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Redacção Ponto de Situação

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