
Análise do ponto de vista histórico
PROFESSOR ESCLARECE CAUSAS DO CONFLITO NA RDC
- por Redacção --
- Tuesday, 18 Mar, 2025
Na visão do professor de história, existem vários motivos do conflito entre o governo congolês, com o M23, apoiado pelo Ruanda, particularmente os raros recursos minerais existentes neste país e as rivalidades étnicas usadas pelo ocidente.
O professor, salienta que do ponto de vista histórico, todo e qualquer país da África Subsariana, tem três períodos: o pré-colonial, o colonial e o pós-colonial.
Na sua análise, os problemas nesta parte de África, começaram ainda no período colonial, tendo destacado particularmente o conflito que hoje assola a RDC, por ser o foco da reflexão.
O docente, acrescentou que nesta época também não existia a República do Ruanda, isso por volta do século XIII, mas havia o Congo dya Ntotela, a RDC, o Congo Brazaville e o Congo Gabão. Nesta altura a República do Ruanda também era um território da RDC, onde existiam duas etnias chamadas Tútsis e Hutus, tal como existe em Angola os Sulano e os Bacongo, “e por pouco não tivemos uma guerra tribal, semelhante ao que aconteceu com os Tútsis e Hutus”.
Segundo o professor de história, os Hutus eram camponeses e agricultores, por sua vez os Tutsis eram pastores de gados. É desta forma que fez o enquadramento dos dois povos até a chegada dos belgas. Matondo pedro Komba, refere que quando os belgas se instalaram naquele território, atribuíam aos Tútsis (um grupo minoritário), cargos administrativos e outras categorias, sendo considerados mais assimilados e cultos, em relação aos Hutus que eram a maioria. Foi a partir desta separação criada pela Bélgica, que deu origem a rivalidade entre os dois povos.
“Foi assim por quase toda África colonizada”, acresceu.
Na opinião do professor, esta rivalidade foi um plano do colonizador para desestabilizar estas tribos e usar para o seu benefício, mesmo que um dia não estivesse mais neste território como colonizador.
Segundo o professor, prova deste cenário, foi o que aconteceu após a independência do Ruanda em 1962, assumiu a presidência Juvenal, de origem Hutu. Supostamente, fomentou uma campanha de extermínio contra os Tútsis, onde alguns destes povos fugiram para o Congo e outros permaneceram tentado mudar o quadro.
‘‘Depois da época do genocídio que começou em abril de 1994 e terminou em julho do mesmo ano. Após a morte de Juvenal, entra para a presidência um Tútsi que é Paul Kagame. Com a sua entrada para o cargo, processa o presidente interino Théodore Sindikubwabo, um Hutu, que depois foge para o Congo, e começa uma perseguição contra os Tútsis. É isto a que levou a rivalidade imposta pelo colono’’, comentou o professor.
Recorda que no Congo, Joseph Kasa-Vubu assume a presidência em 1960, nomeia de imediato Patrice Lumumba, como primeiro ministro, e fez outras nomeações para o mesmo cargo em pouco espaço de tempo, o que para Matondo Komba demonstrava instabilidade política.
Segundo o interlocutor, devido as nomeações que causavam separações étnicas e a consequente crise política, Mobutu Sese Seko, que na época era chefe do exército, perpectuou um golpe de estado ao presidente Joseph Kasa-Vubu, tendo prendido o líder congolês, tendo permanecido como presidente de 1975 até1977, num regime que caracteriza de ditatorial, onde tinha o controlo de tudo.
Por outro lado, garante que nesta época Lorent Kabila, que pertencia ao Leste do Congo, não concordava com a ditadura de Mobutu, e para derrubaá-lo teve o apoio do Ruanda, mais propriamente com a etnia Tútsi, fazendo alguns acordos que não honrou e por isso morreu vítima de um golpe de Estado.
‘‘Acredita-se que nestes acordos que Lorent Kabila fez com o Ruanda, se tenha prometido ceder parte do território congolês, que hoje o M23 reivindica, e por isso os conflitos nesta região tem ocorrido’’, comentou o docente, em entrevista ao Portal Ponto de Situação.
Matondo Komba acredita que devia haver negociação entre o presidente actual da RDC e o M23, mas sem a interferência do ocidente, “se calhar na presença do presidente João Lourenço e outros” e justifica que neste momento o Ruanda é tido como o lugar de despejo de pólvora, e o M23 está a ser financiado com armamento do ocidente.
“Se o governo congolês ceder as exigências deste grupo rebelde, com certeza o Ruanda e o ocidente sairão beneficiados”, sublinhou.
O professor de história, Matondo Pedro Komba, aconselhou a África no geral, a olhar para a situação do Congo, como um exemplo para os africanos e reafirma que ‘‘a solução para África está com os africanos’’.
“Não podemos permitir que as etnias ou qualquer outra opinião de fora nos separe, separados somos mais fracos”, exortou.
Finalmente, declarou que os Tútsis e Hutus, perseguem-se até hoje por causa da divisão que o colonialismo trouxe, por isso, reafirma a necessidade de se acabar imediatamente com o tribalismo ainda visível no continente, que tem sido um dos problemas dos conflitos em África.
“Acabemos com esse tribalismo causado (uma herança colonial), para que tenhamos uma África em que os africanos tenham prazer em viver”, finalizou o professor.
Lembrando que este país foi oficialmente conhecido como a "República Democrática do Congo" entre 1965 e 1971, quando teve o nome alterado para República do Zaire.
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Redacção Ponto de Situação