Solução para a paz

ANÁLISE POLÍTICA DA RETIRADA DE ANGOLA COMO MEDIADORA DO CONFLITO DA RDC

O conflito na República Democrática do Congo continua e o Ponto de Situação traz mais uma análise política sobre a retirada de Angola como mediador. O nosso convidado apresenta vários factores que possivelmente tenham influenciado nesta decisão.

O estudante de Ciência Política, Hamilton João afirmou que de acordo a informação oficial da presidência da República, Angola retirou-se do processo de mediação em função do novo papel que exerce como líder da União Africana (UA).

“O presidente angolano e líder da União Africana não quer simplesmente se apegar a situação do Congo, mas abranger a sua visão de resolução dos problemas de forma geral, no que toca a segurança, e outros factores, como desenvolvimento social e económico para África”, explicou.

Na visão de Hamilton, esta retirada tem a ver também com factores externos, porque estava previsto uma cimeira há 18 de Março,  em Luanda, onde participariam os intervenientes directos deste conflito (RDC E M23), para se encontrar possíveis acordos para o fim da guerra,  o que não aconteceu por desistência a última da hora do grupo armado.

‘‘Surpreendentemente e por razões desconhecidas, os presidentes Tchissekedi e Kagame, decidiram acertar este processo de mediação com o chefe de Estado do Qatar’’, afirmou.

O estudante, acredita que esta atitude também tem a ver com a retirada de Angola da mediação, pois estava prevista uma cimeira, onde havia sido feitos esforços para pôr a mesa os intervenientes directos deste conflito, e de forma estranha surgem os dois líderes no Qatar, ‘‘penso que houve aqui desrespeito e má fé por parte dos dois governos’’, declarou.

O interlocutor acredita que,  mesmo com a saída de Angola, como mediadora, continuará tendo um papel importante neste conflito, devido as fronteiras que a separa com o Congo, e que o presidente João Lourenço, na qualidade de líder da União Africana, poderá exercer influência sobre aquele que será o próximo mediador.

Hamilton João justifica, o que está em causa é a segurança do país e falou concretamente da província de Cabinda, por existir neste território, um movimento reivindicativo, a Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC).

“Se o governo angolano se descuidar poderá haver ligação com o M23, o que seria um grande problema para Angola”, alertou o estudante.

Quanto aos interesses do ocidente, disse que o Qatar não tem essa política ideológica com o ocidente, mas é claro que possui os seus interesses.

Concluiu que  não há vontade para que este conflito se resolva, em função dos recursos estratégicos que o Leste do Congo detém, que beneficiam de forma ilícita várias multinacionais no ocidente, e a um preço muito baixo.

O estudante de Ciência Política avançou que há informações oficiais da própria ONU, dos governos americano e francês, que garantem o financiamento do Ruanda ao M23, para que este grupo continue as suas operações no Congo e levanta uma possível dependência económica do Ruanda, vinda do ocidente.

‘‘Então, penso que para terminar com este conflito, basta estes governos retirarem a ajuda por meio de sansões, e desta forma pressionar o governo ruandês a parar de financiar o M23, mas falta vontade destes países’, informou.

Sobre o encontro de Tchissekedi e João Lourenço esta semana em Luanda, o nosso entrevistado, disse que apesar de Angola se ter retirado de forma oficial como principal mediador do conflito no Leste da RDC, não significa que vai desligar-se de forma absoluta.

‘‘O nosso governo tem interesses, e um deles está ligado a questões de segurança, porque a instabilidade política com proporções maiores no Congo afectaria claramente as fronteiras do estado angolano, e João Lourenço,  também na qualidade de presidente da UA,  tem de ter este papel interventivo, mesmo não sendo de forma directa’’, disse.

Para finalizar, Hamilton João reafirmou que é possível resolver o conflito, mas tem de haver esforços, por parte dos vários mediadores envolvidos e dos principais intervenientes, porque se não houver esta vontade passarão décadas para que haja o cessar das armas no Leste da RDC.

 

Redacção Ponto de Situação

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