
Contentores de lixo tornam-se “restaurantes” para jovens
CACUACO: FOME CASTIGA JOVENS E MOTIVA-LHES A COMER EM CONTENTORES DE LIXO DIARIAMENTE
- por Redacção --
- Tuesday, 04 Feb, 2025
São vários os jovens que se dedicam a recolha de resíduos sólidos, com objectivo de acautelar a fome que afecta diversas famílias, em diferentes bairros de Cacuaco, em Luanda.
Por: Angelino Katchama
Os residentes do bairro Kuata-Cama, no município de Cacuaco, afirmaram na tarde de Segunda-feira, as 17 horas e 30 minutos, 3 de fevereiro de 2025, ao Portal Ponto de situação, que fazem da prática de recolha de resíduos sólidos o sustento das suas famílias.
Questionados sobre o tempo em que exercem esta actividade, um dos entrevistados respondeu que está há dois anos e justifica que o sacrifício que faz, é simplesmente para “as crianças não ficarem com fome".
Para o pai de dois filhos, desde 2023, que recolhe ferros e plásticos, para dirigir-se as “casas de peso”, onde diariamente pode conseguir entre 700 a 1500 kwanzas, para que consiga sustentar a família. Na entrevista, confessou que tem recolhido restos de alimentos, que leva em casa para os petizes.
Segundo João Manuel, de 34 anos, proveniente da Lunda Norte, bairro 1º de Maio, município do Lucapa, actualmente depende dos contentores de lixo para alimentar a família e não tem outra opção por enquanto.
Domingos Tiago, de 48 anos, morador da Retranca, disse que optou por este caminho, para não se dedicar a criminalidade, cujas consequências podem ser maiores para si e a família. A recolha de resíduos sólidos, garante ser “uma vida sem esperança” e deposita o futuro nas mãos de Deus.
Por outro lado, Paulo Tchissingue, também morador do bairro Retranca, afirmou não ter outra opção por enquanto.
Na perspetiva de Paulo, o que leva muitas pessoas a comer no lixo, é realmente a fome e aponta como uma das causas a qualidade de ensino em vigor no país. “olha só para os jovens, muitos vivem de restos de alimentos”, lamentou.
Um outro cidadão, acredita que o quadro vai mudar tão logo o Estado melhorar a governação do país, caso contrário, “os angolanos vão viver sempre esta realidade”.
"Uns comem em restaurantes, outros alimentam-se em contentores de lixo e depois dizem que o país está bom”, desabafou.
De acordo com estudante de enfermagem, Miguel Panzo, esta realidade é um atentado a Saúde Pública e espera que o Estado e outros actores da sociedade, trabalhem para que este cenário possa ser alterado.
O estudante de Psicologia Clínica, João Mateus, diz tratar-se de um comportamento desequilibrado, "ou seja, entende-se que são necessidades, entretanto, é extremamente reprovável comer no lixo” e não entende tal prática do ponto de vista da psicologia.
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Redacção Ponto de Situação