‘‘MINHA PRIMA ABUSOU DE MIM E SÓ HOJE VEJO COMO FOI PROBLEMÁTICO’’

Os churrascos ao domingo na casa da avó materna eram os momentos preferidos de André. Era ali, que aos 7 anos encontrava a família, ouvia samba com os tios e se divertia com as outras crianças da vizinhança. No entanto, foi um local que não se apagou das suas lembranças, porque foi ali que sofreu violência sexual por parte da prima.

‘‘MINHA PRIMA ABUSOU DE MIM E SÓ HOJE VEJO COMO FOI PROBLEMÁTICO’’
Denúncia sobre abuso sexual a homens

Hoje, aos 29 anos, conta que as memórias da época são difusas, mas diz não ter dúvidas de que os abusos aconteciam com frequência, sempre longe do olhar dos adultos.

No quarto escuro, a prima dizia que era o momento de brincar de dormir: "Hoje, quando penso que fui introduzido ao sexo tão cedo assim, vejo o quanto tudo isso foi problemático, mas sinto que nós, homens, não identificamos situações assim tão facilmente", disse a BBC.

O caso de André, cujo nome foi trocado a seu pedido assim como o das demais vítimas citadas na reportagem, está longe de ser isolado.

Em média, 27 rapazes são vítimas de estupro a cada dia no Brasil, segundo os dados de 2023 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Respondem por 11,8 % dos casos totais de violência sexual notificados. No caso de mulheres são 88,2% do total e 203 por dia.

Dentro de casa, por pessoas conhecidas

Das quatro situações de abuso que Jorge conta ter sido vítima, três foram com pessoas conhecidas. O primeiro assédio aconteceu ainda na infância, aos 10 anos. O mesmo estranhou quando um homem que conhecia, mas com quem não tinha nenhuma intimidade, pediu que sentasse em seu colo.

Jorge estava em um carro, numa estrada deserta e quem dirigia era o mecânico da oficina que funcionava abaixo da sua casa. Naquela tarde, o homem o convidou para aprender a dirigir.

Após conduzir o veículo até um local afastado e estacionar, o adulto ficou "próximo demais", conta Jorge. Ainda hoje, lembra de pediu para ir embora e do desconforto que sentiu, mas não consegue nomear o que viveu como uma violência.

"É sempre nebuloso relembrar essa cena, não tínhamos muita intimidade e eu não era uma criança tão pequena a ponto de não alcançar o pedal do carro", conta.

Aos 12 anos, estava sozinho em casa, quando um colega, quatro anos mais velho, com quem costumava brincar na rua, se convidou para entrar. O jovem perguntou se Jorge já havia beijado alguém. "Ele insistiu que queria me ensinar, mesmo depois de eu dizer que não queria aprender", relembra.

"Foi tudo muito estranho. Me senti muito vulnerável. Mas só mais velho percebi que aquilo foi um abuso. Quando lembro, sinto muita raiva e vergonha por aquele beijo ter acontecido", lembra ele.

A situação mais recente foi em sua própria casa, com um colega de trabalho. Os dois tinham ido juntos a um happy hour para comemorar a entrega de um projecto importante e, depois, decidiram ir para a casa de Jorge.

"A ideia era apenas beber mais algumas cervejas e continuar o papo, mas, na minha casa, ele começou a chegar muito próximo, passou a mão em mim e até se ajoelhou insistindo para que ficássemos", conta.

"Eu disse a ele que, para mantermos nossa relação numa boa, era melhor que ele parasse por ali, assim eu também fingiria que nada tinha acontecido", relembra Jorge.

O rapaz também passou por uma situação de importunação sexual no transporte público. Em 2022, estava acomodado próximo à janela do autocarro, quando um homem mais velho sentou ao seu lado no fundo do colectivo. O homem batia o joelho em sua perna repetidamente.

Notando a movimentação estranha, Jorge pensou que seria assaltado, mas, assim que olhou para o lado, percebeu que o homem se masturbava. "Na hora eu não tive reação, só apertei o botão de parada do ônibus para descer e ele veio atrás de mim. Comecei a fazer um escândalo até que ele saiu correndo", relembra.

Leia também: 8 FRUTAS RARAS QUE SÓ PODE PROVAR NA AMAZÓNIA