CASAMENTO TRADICIONAL A BEIRA DE SE TORNAR ‘‘NEGÓCIO’’
Nos últimos anos tem havido relatos de que o casamento tradicional tem sido desviado dos padrões culturais aceitáveis, devido o exagero na hora de pedir os dotes, fala-se inclusive que está prestes a se tornar um ‘‘négócio’’.
Em África, particularmente em Angola, a entrega dos dotes, ou alambamento, é uma condição fundamental para realização do casamento tradicional.
Na cultura angolana, o alambamento (casamento tradicional), chega a ter maior impacto que o casamento civil ou religioso. Mas, os excessos na carta de pedido por parte de algumas famílias, tem gerado críticas do lado quem dá.
Esta, é uma realidade que tem ganhado terreno na província mais a norte de Angola que é Cabinda.
O que era considerado um gesto simbólico e de respeito à família da noiva, composto apenas por utensílios básicos, hoje, se tornou em mais que uma lista de compras.
Segundo o político e professor universitário Raul Tati, este é um problema que deve preocupar a todos, pois há um défice de diálogo entre a tradição e a modernidade, ‘‘há problemas muito sérios’’.
‘‘Por isso, a dita modernidade não nos deve alienar a nossa tradição, pois um povo que perde definitivamente as suas raizes ancestrais é um povo sem rumo”, disse o político Raúl Tati.
O bispo da Diocese de Cabinda, Belmiro Chissengueti, também teceu críticas às longas listas de bens pedidos no dote de casamento tradicional que, a seu ver, asfixia jovens têm o sonho de se casar.
Esforço colectivo para o casamento
“O casamento é um elemento fundamental estruturante. Por isso deve haver um esforço social por forma a garantir a harmonia social, mas permitindo que os pobres e os desempregados não sejam impedidos de formar família”, disse o Bispo.
Segundpo o Bispo de Cabinda Dom Belmiro Chissengueti, a mesma preocupação é manifestada pela camada juvenil. Estando em causa a imagem e a dignidade da mulher que é vista na relação em posição fragilizada, tornando-se propriedade da família.
Entretanto, Emiliana Bambi, de 27 anos, deixa um apelo: “Acredito que a cultura deve fazer o seu trabalho de base que é inspecionar, porque particularmente não vejo essa realidade na província”.
A situação motivou recentemente uma Conferência Provincial sobre o Casamento Tradicional, que contou com a participação de vários estratos da sociedade, entre autoridades tradicionais e religiosas, académicos e juristas.
Após o encotro, ficou decidido que a lista dos produtos do dote seja feita pelos pais e não pelos tios, como tem acontecido, para se acabar com excessos. Ainda assim, há famílias que não cumprem, denunciou o secretário provincial da Cultura, Manuel Guilherme.
“Algumas famílias cumprem, mas outras nem por isso, e há ainda outras que nem querem saber disto, ou seja, muitas delas pensam que quanto mais for elevado o dote maior é a valorização da mulher”, relatou.
O vice-governador de Cabinda, Macário Lembe, afirmou ser um atentado à cultura local a atitude das famílias.
“Temos de acabar com a tendência de banalização desta cerimónia que em muitos casos se tem tornado em momentos de destruição da consciência moral, ferindo gravemente o objectivo que é a constituição harmoniosa de uma família”, finalizou.











































