CINCO DÉCADAS DEPOIS: C4 PEDRO FALA DA INDEPENDÊNCIA QUE AINDA FALTA EM ANGOLA

Ao assinalar-se meio século da independência nacional, a 11 de Novembro, o músico C4 Pedro defende que a verdadeira libertação não é apenas política, mas sobretudo cultural e espiritual, num apelo à reflexão sobre o significado da liberdade e da identidade angolana.

CINCO DÉCADAS DEPOIS: C4 PEDRO FALA DA INDEPENDÊNCIA QUE AINDA FALTA EM ANGOLA

“Estamos a celebrar 50 anos de independência, mas independência de quê? Política ou de algo mais?”, questionou o artista, em entrevista à agência Lusa, sublinhando que a sua maior preocupação hoje é a independência cultural e tradicional.

Para C4 Pedro, o marco histórico dos 50 anos de soberania deve ser motivo não só de comemoração, mas também de introspecção.

“Esta é a independência que eu, como angolano, venero. Eu não luto por uma bandeira, luto por uma terra, por um povo, por uma etnia, por uma história- mas uma história que não beneficie A, nem B, nem C, e sim o alfabeto inteiro”, afirmou.

O carismático músico, conhecido por arrastar multidões, acredita que a independência plena só será alcançada quando o povo angolano recuperar o orgulho das suas raízes e tradições.

C4 Pedro considera que a música e a arte têm um papel central na construção de uma consciência colectiva e realçou que, para si, a música “não serve apenas para divertir ou dançar, mas também para pensar, meditar e despertar”.

O cantor entende que cada criador tem uma responsabilidade no despertar da identidade africana e na valorização das suas histórias e tradições.

“Não sei se algum partido poderá salvar o meu país se a consciência do meu povo não estiver desperta. Seja qual for o partido que estiver, ou que venha a estar no poder, o mais importante é a consciência de um povo”, defendeu.

De acordo com o artista, o verdadeiro progresso nasce da autorresponsabilidade, e a política “é mais bela quando desperta o povo, e não quando o torna dependente”.

C4 Pedro reconhece que as marcas da colonização continuam profundas e recorda que a  colonização foi terrível, porque registou-se a mudança em vários aspectos do país, com realce para as crenças, a esperança do povo, os nossos nomes locais e outros. 

“Isto, para mim, é mais grave do que o erro de qualquer partido político no mundo: é quando se apaga a história de um povo”, acrescentou.

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