POLÍTICO DIZ EXISTIREM EM ANGOLA CIDADÃOS QUE SE JULGAM MAIS DONOS DO PAÍS DO QUE OUTROS

O antigo presidente da UNITA, Isaías Samakuva, defendeu recentemente, em Luanda, que a origem das contendas em Angola não reside apenas no conflito armado ocorrido entre 1975 e 2002, mas também no facto de existirem cidadãos que se julgam mais donos do país do que outros.

O político afirmou que os conflitos que ainda se vivem no país residem “também e essencialmente no facto de não nos aceitarmos como sendo todos donos, com direitos iguais, do nosso país”.

Quanto ao caminho para uma verdadeira reconciliação, considerou que este passa pela aceitação mútua entre todos os angolanos, reconhecendo-se como iguais e co-proprietários do mesmo território.

Na sua intervenção, o antigo líder do “Galo Negro” apontou como uma das causas da ausência de uma autêntica reconciliação o facto de, nos diálogos sobre o tema, se evitarem as questões fundamentais que estão na raiz dos conflitos.

“Sempre que procuramos dialogar, fixamo-nos apenas em questões legais, institucionais e constitucionais que, no fundo, visam o reconhecimento de um poder que procura impor-se com base em princípios que considera legais, mesmo quando a sua legitimidade está, à partida, ferida por constantes violações de leis, acordos e compromissos”, reconheceu.

Para a reversão deste quadro, Isaías Samakuva defendeu que todos os cidadãos, devem reconhecer que, ao longo dos anos, todos cometeram erros. “Somente assim poderá existir uma verdadeira reconciliação”, sublinhou.

O político salientou ainda que “a reconciliação que Angola reclama hoje tem dimensões culturais, identitárias, políticas e económicas”. Para tal, considerou ser necessário questionar “as razões que levam as autoridades a concentrar a riqueza e os investimentos produtivos em Luanda, sem democratizar a economia pelas várias classes sociais e políticas, nem descentralizar equitativamente o desenvolvimento pelo território nacional”.

Por ocasião das comemorações dos 50 anos da independência, Isaías Samakuva considera este um momento ideal para resolver tais problemas, de modo a que o país possa viver doravante uma convivência salutar, sustentada por um diálogo abrangente e consensual, conducente a um novo acordo de paz “uma paz política e social”.

A incapacidade de reconhecer os próprios erros, a falta de aceitação da igualdade perante a lei, a intolerância, o medo, a exclusão e a corrupção são, segundo o político, desafios que deverão merecer uma abordagem profunda e cuidada.

Isaías Samakuva prestou estas declarações a 7 de Novembro, à margem do Congresso Nacional da Reconciliação, realizado pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).

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