PRESIDENTE DA UNIÃO AFRICANA QUER UM CONTINENTE MENOS DEPENDENTE DO EXTERIOR

O Presidente em exercício da União Africana, João Lourenço, discursou este sábado, 22 de Novembro, na Cimeira do G20, realizada na África do Sul, onde defendeu a necessidade de o continente financiar o seu próprio destino.

“Recorda-nos que a interdependência e a acção colectiva, sob a égide das instituições multilaterais, constituem o único caminho viável para enfrentarmos os múltiplos desafios do nosso tempo”, declarou.

João Lourenço afirmou que África se encontra no centro dos esforços geopolíticos, económicos e sociais globais, sendo que a sua integração no G20 colocou o continente numa posição de destaque no âmbito do multilateralismo.

O líder explicou que as actuais dinâmicas económicas e sociais globais, bem como a necessidade de implementar as Agendas da União Africana 2063 e das Nações Unidas 2030, tornam imperativo o reforço do diálogo sobre o crescimento económico inclusivo e sustentável nos quadros globais existentes.

Sublinhou ainda que, actualmente, o continente está a executar uma estratégia macroeconómica pró-activa para África.

“É importante haver uma sensibilização coordenada para a mobilização de recursos internos. Isto constitui o alicerce da nossa resiliência, sendo crucial para reconstruir o espaço orçamental e reduzir as dependências externas, sobretudo num contexto marcado pelo acentuado declínio da Ajuda Pública ao Desenvolvimento.”

João Lourenço aconselhou a que sejam envidados esforços para que África financie o seu próprio destino.

“Neste capítulo, temos vindo a dar passos decisivos para a criação das Instituições Financeiras da União Africana.”

O Presidente angolano acrescentou que, além de acelerar a transformação e a diversificação económicas, o continente está a concretizar a Zona de Comércio Livre Continental Africana, contribuição de África para a economia global, que permitirá gerar um crescimento resiliente e inclusivo, criar um mercado de 3,4 biliões de dólares, e proporcionar a diversificação vital necessária para estabilizar as cadeias de abastecimento mundiais.

“Exortamos o G20 a encarar esta iniciativa não apenas como um projecto africano, mas como uma contribuição essencial para a estabilidade do comércio mundial”, alertou.

Enquanto África implementa estratégias continentais, João Lourenço defendeu a necessidade de manter firme o compromisso com o multilateralismo, reiterando o apelo à reforma da Arquitectura Financeira Internacional e apoiando o reforço de um sistema global de comércio baseado em regras, através das reformas em curso na Organização Mundial do Comércio.
“O maior constrangimento à ambição africana é o défice de financiamento acessível.”

O líder da UA reconheceu que o G20 registou avanços louváveis por meio do Roteiro dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento, reformas que apoia plenamente.

O político apelou para que se acelere a implementação dessas estratégias e defendeu um aumento significativo e célere do capital acessível.

Enfatizou também que se torna fundamental reforçar o acesso a esse capital, priorizando o financiamento em moeda local, para mitigar riscos nos investimentos e proteger as economias africanas perante a volatilidade.

João Lourenço destacou ainda que o continente acolheu “com grande apreço” o Quadro de Engajamento G20-África, proposto como mecanismo de médio prazo indispensável para assegurar que o apoio seja coordenado e direccionado a projectos de elevado impacto.

Acrescentou que a questão da dívida permanece o maior obstáculo sistémico que África enfrenta para alcançar crescimento inclusivo e desenvolvimento sustentável.

“A questão da dívida, associada a juros elevados e custos insustentáveis do seu serviço, está a comprometer investimentos essenciais na saúde, na educação e na adaptação às alterações climáticas.”

“Perante esta constatação, é fundamental avançarmos para acções decisivas no que concerne à reestruturação da dívida”, sugeriu.

Informou ainda que, ao nível continental, foi aprovada no início de Outubro a Posição Comum Africana sobre a Dívida, assente na Declaração de Lomé.

O líder apelou a que o Quadro Comum do G20 seja implementado com maior urgência e transparência, aliviando os países com dívida insustentável.

“Exortamos o G20 a apoiar a modernização das práticas das Agências de Notação de Crédito, de modo a corrigir eventuais enviesamentos e assegurar que as avaliações considerem métricas de desenvolvimento mais abrangentes.”

Ao concluir o discurso, João Lourenço reafirmou que a União Africana acolhe plenamente as recomendações dos Relatórios do Painel de Peritos Africanos e da Comissão Extraordinária de Peritos Independentes sobre a Desigualdade da Riqueza Global, apelando ao G20 para transformar compromissos em acções, conduzindo à sua implementação resoluta e coordenada.

 LEIA TAMBÉM: UNIDOS PELA MUDANÇA: CONSTRUA SONHOS E ABRACE A PROSPERIDADE