GASTOS MILIONÁRIOS AFASTAM DIRECTOR DO HOSPITAL DE SANTA MARIA

O Director do Serviço de Dermatologia do Hospital de Santa Maria, Paulo Filipe, demitiu-se após ser confrontado com os resultados preliminares de uma auditoria interna solicitada pelo Conselho de Administração.

GASTOS MILIONÁRIOS AFASTAM DIRECTOR DO HOSPITAL DE SANTA MARIA

 A decisão foi tomada na sequência de revelações feitas a 24 de Junho segundo as quais o médico terá facturado 51 mil euros num só dia.

Paulo Filipe, que também preside à Sociedade Portuguesa de Dermatologia, colocou o cargo à disposição.

O pedido de demissão foi aceite por Carlos Martins, presidente do conselho de administração da unidade hospitalar, que já nomeou uma directora interina para o serviço.

Segundo a imprensa internacional, estão em causa gastos excessivos de médicos do Hospital de Santa Maria, sobretudo aos fins-de-semana, no âmbito do regime de produção adicional, o SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia).

O dermatologista Miguel Alpalhão facturou mais de 50 mil euros num único fim-de-semana, acumulando um total de 714.829 euros entre 2021 e 2024, com a realização de 497 cirurgias aos sábados.

No total, os sete dermatologistas que aderiram ao SIGIC nesta unidade hospitalar geraram uma facturação de 3,8 milhões de euros ao longo dos últimos quatro anos.

Em termos comparativos, o serviço de Dermatologia viu os seus rendimentos com produção complementar dispararem de 179.347 euros em 2021 para 1,7 milhões de euros em 2024, um aumento superior a 800%.

A nível global, todas as especialidades do Hospital de Santa Maria passaram de um total de 6,5 milhões para 14,5 milhões de euros no mesmo período, atingindo um acumulado de 44,6 milhões, sendo que a Dermatologia representa 3,8 milhões desse montante.

Denúncias internas e ambiente de tensão

Entre os casos em investigação, está o da médica Rita Travassos, que terá registado cirurgias em seu nome enquanto se encontrava num congresso em Itália. Em 2024, auferiu 113 mil euros, apenas com actos médicos realizados aos sábados.

Num testemunho polémico, Paulo Filipe denunciou o caos no serviço:

“A Dermatologia do Santa Maria é, actualmente, uma anarquia completa. A urgência funciona das 09h00 às 21h00, todos os dias, e é garantida, na maioria das vezes, por médicos internos, profissionais em formação, que estão escalados sozinhos, sem supervisão, e responsáveis por casos clínicos complexos.”

O ex-director admitiu ainda que “vários colegas consideram obscenos os valores pagos por cirurgias” e acrescenta:

“Algo não está correcto. Não faz sentido, tendo em conta a complexidade dos procedimentos realizados.”

Perante a gravidade das alegações, o presidente do Conselho de Administração ordenou a abertura de cinco auditorias internas centradas na gestão e facturação do serviço de Dermatologia.