ESPECIALISTA APONTA ESTABILIDADE ECONÓMICA EM ANGOLA MAS DENUNCIA MÁ DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA
O economista e professor universitário Tomás Kambuete defendeu que o estado da economia angolana continua estável, mas sublinhou que “o verdadeiro problema está na forma como as riquezas são distribuídas”.
Em entrevista ao Ponto de Situação, o académico afirmou que os recursos do país existem e são abundantes, mas a sua gestão tem sido marcada por falhas estruturais e políticas.
Ao longo da conversa, o professor fez uma análise comparativa, recorrendo a referências históricas e ao pensamento económico de figuras políticas nacionais, entre elas António Agostinho Neto e Jonas Malheiro Savimbi.
Tomás Kambuete recordou que Jonas Savimbi, apresentou uma visão própria, centrada na valorização do cidadão angolano e na soberania nacional. Por sua vez, citando Agostinho Neto, o economista evocou a célebre frase do primeiro Presidente de Angola:
“África seria considerada como um corpo inerte, onde cada um vinha debicar um pedaço de carne.”
Para o também académico, essa metáfora descreve com precisão a actual dependência económica do continente e em particular de Angola, face às potências estrangeiras e às multinacionais que “abocanham as riquezas africanas como verdadeiros abutres”.
O economista considera que um dos problemas do país, reside no facto da estrutura económica estar “condicionada por interesses externos e acordos que, desde a era de Agostinho Neto, beneficiam mais forças estrangeiras do que o povo angolano.”
Ao abordar o papel da ministra das Finanças, Vera Daves, lembrou a sua frase recente: “Já fizemos tudo, até já orámos”, interpretando-a como um sinal de exaustão face às limitações estruturais impostas por interesses externos.
No segmento sobre o pensamento económico dos líderes políticos angolanos, o especialista citou Jonas Savimbi, ao relembrar a frase “A cooperação comigo não é fácil. Para mim, em primeiro lugar, o angolano.”
Ao longo da entrevista concedida ao Portal Ponto de Situação, disse que José Eduardo dos Santos, enquanto Presidente da República, reconheceu que existem bons planos e bons projectos, mas, quando chega o momento da execução, é aí onde estão os problemas.
“Vontade temos, técnicos capacitados também, mas falhamos na execução”, segundo o economista ao citar uma das declarações de Agostinho Neto.
O profissional concluiu que os países mais ricos em recursos são, paradoxalmente, os mais controlados por multinacionais e que os governos acabam por perder autonomia face a contratos antigos e desvantajosos.
Questionado sobre as estratégias para reverter o cenário económico, Tomás Kambuete defendeu que a mudança passa por uma alternância de pensamento económico e pela entrada de novos actores políticos, sobretudo jovens.
Para o professor, as eleições continuam a ser “a via mais viável” para a mudança, ainda que reconheça as dificuldades impostas pelo actual contexto político e económico.
“Na nossa realidade, isso não é fácil, dado o controlo exercido pelas multinacionais. Se nada mudar, poderemos assistir a fenómenos semelhantes às primaveras árabes, quando a juventude deixa de confiar nas instituições e procura caminhos fora da ordem constitucional”, rematou.



















































