VICE-PRESIDENTE DA COLÔMBIA ACUSA ONU DE RACISMO AMBIENTAL

Durante o COP 30 em Belém do Pará, a vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, acusou a ONU de não reconhecer o valor político e cultural das populações negras e indígenas nas principais decisões sobre o clima.

A 30ª edição da Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima acontece até 21 de Novembro e reúne líderes globais, representantes de mais de 190 países, cientistas e a sociedade civil. 

De acordo com a “Agência Brasil”, a também activista ambiental e dos direitos humanos, terá afirmado durante a sua intervenção que as Nações Unidas são racistas. Márquez discutiu o conceito de racismo ambiental e evidenciou como as mudanças climáticas afectam de maneira diferente povos historicamente oprimidos.

“Quando falamos de racismo ambiental, tenho que começar reconhecendo que as Nações Unidas são racistas”, disse activista ambiental.

“Na COP16, fizemos um esforço enorme ao lado do Brasil para que reconhecessem oficialmente a categoria dos povos afrodescendentes. E sabem o que disseram? Que não temos uma linguagem contributiva. Não somos uma linguagem, resistimos. Temos cultura e contribuímos para a conservação do meio ambiente”, completou.

A governante entende que os povos afrodescendentes e indígenas têm sofrido com os efeitos da emergência climática, fruto do racismo sistemático.

“O colonialismo e a escravidão serviram a estruturas que sustentaram um modelo económico que hoje esgota a vida no planeta, que expropriam a condição humana de certos povos e que os colocam em condição de inferioridade”, explicou a representante.

“Não se pode falar simplesmente do clima, como o ar, a água e a terra, sem entender que tudo está conectado. Os mais vulneráveis são as populações racializadas, as populações que são há muito tempo objeto de violências estruturais”, concluiu.

A apreciação da representante Colombiana foi apoiada pela ministra da igualdade racial, Anielle Franco, que lembrou experiências pessoais, para ilustrar como as populações mais pobres e racializadas sempre estiveram vulneráveis aos extremos do clima.

“A favela da Maré, quando a gente descia para brincar em algumas partes, a gente sentia muito quando o calor aumentava. Se chovia, e o esgoto ou o valão transbordavam, a gente não podia descer para brincar. Isso é racismo ambiental”, disse a ministra da igualdade racial.

“Se você parar para pensar que na Baixada Fluminense o calor é normalmente 4 graus acima da Zona Sul do Rio de Janeiro, por esta ser mais arborizada, isso também é racismo ambiental”, rematou.

Por sua vez, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou que o governo federal tem somado esforços para atender ao tema, implementar medidas de transição justa e dar maior protagonismo para os povos tradicionais na COP30.

“A cada grande tragédia de fogo, de fome, de seca, de sede, de inundação, percebemos o quanto o racismo ambiental está atingindo de forma brutal as populações mais vulneráveis. Esta COP vai pautar esses problemas”, disse a ministra.

“Temos garantido a ampla participação social e a maior participação indígena da história das COPs. Estamos pautando a partir de documentos, como declaração lançada pelo Brasil sobre o racismo ambiental. E vamos continuar nessa agenda de ação com diversas propostas”, concluiu.

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30) discute a emergência climática global e foi oficialmente aberta na passada segunda-feira, 10 de novembro, em Belém do Pará.

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