ESTUDO REVELA QUE PLANTAS EMITEM SONS QUANDO ESTÃO SOB ESTRESSE

Parece coisa de ficção botânica, mas a ciência confirma que as plantas gritam, com sons reais, apenas inaudíveis para os ouvidos humanos.

ESTUDO REVELA QUE PLANTAS EMITEM SONS QUANDO ESTÃO SOB ESTRESSE

Uma investigação conduzida pela Universidade de Telavive, em Israel, revela que as plantas emitem ruídos quando se encontram sob stress, e que animais respondem a esses sinais invisíveis.

O estudo, publicado esta semana, mostra que mariposas fêmeas evitam depositar ovos em tomateiros que emitem sons associados a stress, uma reacção que sugere que reconhecem, de alguma forma, que a planta pode não estar saudável o suficiente para alimentar as futuras larvas.

É a primeira evidência científica de um animal a responder ao som produzido por uma planta, afirmou Yossi Yovel, professor da Universidade de Telavive.

“Pode parecer especulação, mas acreditamos que há um ecossistema sonoro oculto, onde animais tomam decisões cruciais, como polinizar, abrigar-se ou alimentar-se, com base nos sons emitidos pelas plantas”, sublinhou.

As vozes silenciosas da natureza

Do ponto de vista técnico, as plantas emitem sons que escapam à audição humana, mas que são detectáveis por diversos insectos, morcegos e pequenos mamíferos.

A equipa de investigadores já havia demonstrado, há dois anos, que as plantas “gritam” em situações de desidratação ou quando sofrem agressões físicas.

Nesta nova etapa, os cientistas realizaram experiências rigorosas, controlando factores visuais e olfactivos, para comprovar que as mariposas estavam a reagir, de facto, ao som e não à aparência ou cheiro da planta.

No centro da experiência estiveram mariposas fêmeas da espécie Helicoverpa armigera, conhecidas por escolherem tomateiros saudáveis para pôr ovos, mas, quando os tomateiros emitiam sons típicos de stress, resultado da falta de água, as mariposas evitaram-nos.
Comunicação vegetal

Lilach Hadany, co-autora do estudo, abre um horizonte de possibilidades:
“Se uma planta está em sofrimento, o organismo que mais se deveria importar é outra planta. E talvez elas já comuniquem entre si. Esta descoberta poderá ser apenas a ponta do icebergue de uma linguagem vegetal subtil e acústica”, sugeriu.

A questão que se levanta é se as plantas são apenas produtoras acidentais destes sons, fruto de alterações físicas internas ou se há alguma intencionalidade evolutiva no seu uso.

Hadany considera que, se for vantajoso para a planta, ela poderá ter evoluído para emitir sons mais altos ou mais específicos, e, em contrapartida, os animais também terão apurado a capacidade de os escutar.

A ideia de que as plantas podem estar envolvidas num jogo ecológico sonoro, onde comunicam e interagem com o ambiente e onde essa “conversa” é ouvida e interpretada por insectos e talvez por outras plantas,  muda o nosso entendimento do mundo natural.

“É um campo vasto e quase inexplorado. Um mundo inteiro à espera de ser descoberto”, disse Hadany à BBC News.

As florestas têm ouvidos

Os cientistas planeiam agora mapear os sons de diferentes espécies vegetais e observar como outras criaturas reagem a esses “sussurros verdes”. Poderá uma árvore avisar a vizinha que vem aí uma seca? Poderão as raízes de uma planta actuar em resposta ao “grito” da outra?

Apesar de enfatizarem que as plantas não são sencientes, os investigadores acreditam que esta forma de comunicação natural pode ser tão impactante quanto qualquer linguagem, apenas opera noutra frequência, num silêncio que grita.