CORPO HUMANO ESCONDE MISTÉRIOS QUE A EVOLUÇÃO AINDA NÃO CONSEGUE EXPLICAR
Porque temos queixo? E por que razão os nossos testículos são maiores que os dos gorilas, mas menores que os dos chimpanzés? A ciência tenta responder, mas há zonas do corpo humano que continuam a desafiar a lógica evolutiva.
O corpo humano é uma máquina engenhosa, esculpida pela evolução ao longo de cerca de quatro mil milhões de anos. Cada osso, glândula ou dobradiça de cartilagem carrega consigo uma história e nem todas essas histórias têm explicação.
Do queixo humano uma raridade no mundo animal ao enigma do tamanho dos testículos, há características que ainda baralham os cientistas. Em The Tree of Life (A Árvore da Vida), o autor e biólogo Stephen Jay Gould mergulha nesses mistérios, revelando que nem tudo, afinal, está escrito no código genético da lógica.
A chave para entender certas partes do corpo pode estar na chamada evolução convergente, quando características semelhantes surgem em espécies diferentes, sem terem um antepassado comum recente. Esta “coincidência evolutiva” tem ajudado a explicar, por exemplo, o tamanho dos testículos em várias espécies de mamíferos.
No reino dos primatas, os contrastes são gritantes: os gorilas, com os seus haréns exclusivos, possuem testículos pequenos. Já os chimpanzés e bonobos, conhecidos pela vida sexual activa e colectiva, têm testículos muito maiores.
O mesmo se observa entre o colobus (3g) e o macaco-de-boina (48g), dois primatas com pesos semelhantes, mas com hábitos sexuais distintos. Um vive em haréns, o outro em grupos promíscuos e isso faz toda a diferença.
A explicação é simples: mais concorrência, mais esperma e para produzir mais esperma, é preciso mais testículos. A selecção sexual, que actua como um leilão genético, favorece os machos com maior produção reprodutiva. No fundo, trata-se de uma corrida microscópica onde ganha quem tiver mais soldados no campo de batalha.
Mas há surpresas maiores. Os golfinhos, por exemplo, levam o troféu de “campeões testiculares”: os seus testículos podem representar até 4% do peso corporal, o que, no caso humano, equivaleria a carregar dois quilos e meio de carga genética entre as pernas.
Quanto aos humanos, ficamos no meio do caminho. Nem castos como gorilas, nem promíscuos como bonobos. E os nossos testículos reflectem isso: um tamanho intermédio, que permite múltiplas interpretações e abre espaço a mais investigações e talvez até a alguma filosofia de bar.
Mais do que curiosidades anatómicas, estes dados revelam padrões profundos na forma como a natureza molda a vida. Cada músculo, cada glândula, é uma pista num mistério maior: o de como nos tornámos quem somos.