SENHORAS ACREDITAM QUE “DOENÇA DA TRAIÇÃO” PODE ATINGIR CRIANÇAS E ADULTOS

Populares em Luanda acreditam que a doença tradicionalmente conhecida por gipalo,  outrora associada apenas a crianças dos zero aos 5 anos, pode actualmente afectar os adultos, em casos de traição conjugal, com consequências consideradas graves e, por vezes, fatais.

SENHORAS ACREDITAM QUE “DOENÇA DA TRAIÇÃO” PODE ATINGIR CRIANÇAS E ADULTOS
SENHORAS ACREDITAM QUE “DOENÇA DA TRAIÇÃO” PODE ATINGIR CRIANÇAS E ADULTOS
SENHORAS ACREDITAM QUE “DOENÇA DA TRAIÇÃO” PODE ATINGIR CRIANÇAS E ADULTOS

É frequente ouvir-se, em diversos bairros da capital, relatos de que uma criança pode contrair gipalo se um dos progenitores mantiver uma relação extraconjugal e, posteriormente, tiver contacto físico com ela. Segundo estas crenças, trata-se de um problema para o qual a medicina convencional não oferece solução.

Na manhã de terça-feira, 15 de Julho, o Portal Ponto de Situação saiu às ruas de Luanda para auscultar vozes sobre este fenómeno que oscila entre o mito e o misticismo.

Dona Suzana, de 52 anos, proveniente do Cuanza-Sul, disse ter crescido a acreditar que o gipalo era exclusivo das crianças, mas recentemente ouviu casos de adultos que também contraíram a alegada doença. Segundo a fonte, nos homens, os sinais incluem "ficar burro e com a barriga grande", enquanto nas mulheres se manifesta pelo emagrecimento excessivo.

Mais ainda, acredita-se que uma mulher grávida pode transmitir o gipalo ao feto, sendo que noutras províncias esta condição já foi designada por zamba.

"Mulheres e homens, sejamos mais fiéis aos nossos cônjuges", advertiu, com voz solene, a entrevistada.

Outra senhora, que preferiu manter o anonimato, explicou que o gipalo pode ser transmitido por uma “ventania da mãe”, uma espécie de energia invisível e reforçou a ideia de que o homem traído pode perder a sua “esperteza”.

Para Dona Elsa, mais uma cidadã que ouviu falar da doença, não há uma idade específica para a sua manifestação.

“A situação é preocupante porque já é do nosso conhecimento”, sublinhou Dona Márcia, de 32 anos, residente no bairro Sapú. Disse ter ouvido que o “calor de uma mãe ou de um pai infiel” pode ser suficiente para afectar a saúde de uma criança.

A educadora de infância Cláudia Afonso partilhou uma perspectiva mais clínica e observacional.

 “Nas crianças, o gipalo manifesta-se com fezes alteradas, choros constantes, perda de peso, diarreia, desnutrição e olhos amarelados”. Realidades que, segundo a interlocutora, muitos pais ignoram, muitos por desconhecimento.

Enquanto alguns associam o gipalo a um protesto cultural africano contra a poligamia e a infidelidade, outros duvidam da sua existência e acreditam que os sintomas atribuídos à doença possam, na verdade, estar ligados a condições genéticas como a anemia falciforme.

A crença na ligação entre a infidelidade e o aparecimento da doença pode representar um mecanismo social de contenção moral, destinado a reforçar a fidelidade conjugal e a protecção da criança.

As fontes ouvidas garantem que gipalo tem cura, mas alertam, se não for tratado de imediato, pode evoluir para complicações fatais.

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