BRICS: VÍDEO DO GOVERNO BRASILEIRO “ANEXA” PARTE DA UCRÂNIA AO TERRITÓRIO RUSSO
Um vídeo publicado pelo governo do Presidente Lula da Silva, na conta oficial @GovBr nas redes sociais, para promover a presidência brasileira na Cimeira dos BRICS, gerou polémica ao apresentar regiões do Leste e Sul da Ucrânia como parte do território russo.

No vídeo, que aborda a discussão dos países-membros do bloco sobre o financiamento à transição energética, surgem, durante a representação da Rússia, faixas do território ucraniano do Donbass às imediações de Kharkiv, pintadas com as cores azul, branca e vermelha, correspondentes à bandeira da Federação Russa. A escolha gráfica sugere uma alegada anexação destes territórios à Rússia, contrariando o reconhecimento internacional da soberania ucraniana sobre as referidas regiões.
Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, tem sido alvo de bombardeamentos intensos desde o início da invasão russa, em Fevereiro de 2022. Apesar das ofensivas, a Rússia nunca conseguiu tomar a cidade, embora continue a pressionar militarmente o seu flanco Norte e Nordeste.
Desde o início do conflito, Moscovo tenta consolidar o controlo das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no Leste da Ucrânia, onde operam milícias pró-russas com apoio do Kremlin. A estratégia russa visa, a médio prazo, a anexação formal desses territórios, contrariando o Direito Internacional.
A CNN Brasil contactou o Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal brasileiro para obter esclarecimentos sobre o conteúdo do vídeo, mas aguarda ainda uma resposta oficial.
O Presidente Lula da Silva tem tentado posicionar-se como um potencial mediador nas negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia. Contudo, as suas declarações públicas têm gerado críticas no cenário internacional, nomeadamente pela ambiguidade da sua postura em relação a Moscovo.
Durante a Cimeira dos BRICS, o chefe de Estado brasileiro apelou à pacificação, reiterando o discurso que tem mantido desde o início do conflito. Em Junho deste ano, numa visita a Paris, Lula afirmou que “na guerra, nem sempre acontece o que a gente quer”, numa referência indireta às exigências territoriais russas.
As relações entre Lula e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, são visivelmente tensas desde o primeiro contacto entre ambos, em 2023, no início do terceiro mandato do líder brasileiro. Desde então, não houve aproximação diplomática efectiva, e as divergências tornaram-se públicas.
Zelensky tem manifestado desconforto com a posição morna do Brasil, acusando o país de não demonstrar solidariedade inequívoca para com a Ucrânia, numa altura em que o apoio internacional tem sido crucial para a sua resistência à invasão russa.