CRENÇAS POPULARES DIVIDEM OPINIÕES SOBRE O “MAU OLHADO” EM ANGOLA

Entre diferentes gerações e sensibilidades, os cidadãos dividem-se quanto ao fenómeno do “mau olhado”, crença ancestral associada a energias negativas, supostamente capazes de provocar infortúnios na vida de quem é alvo da inveja,  seja adulto ou criança.

CRENÇAS POPULARES DIVIDEM OPINIÕES SOBRE O “MAU OLHADO” EM ANGOLA

No contexto africano, o fenómeno assume diferentes designações. Em Angola, é comum ouvi-lo referido como “mau olhado”, “olho gordo” ou ainda “quebranto”.

Segundo a crença, esta força negativa é transmitida por um simples olhar carregado de más intenções, que visa minar o bem-estar emocional, espiritual e até físico da pessoa visada.

Dona Teresa, comerciante de aproximadamente 50 anos, natural do Cuanza-Sul, acredita nesta força invisível e reafirma a sua existência como uma verdade inquestionável.

“Ainda ontem tivemos uma representação teatral na igreja, onde abordámos o tema do mau olhado”, contou ao Portal Ponto de Situação.

Segundo a entrevistada, os principais emissores deste olhar destrutivo são, muitas vezes, familiares, amigos próximos ou vizinhos.

“Confia só no teu coração”, aconselha, com um brilho desconfiado no olhar.

Contudo, nem todos partilham da mesma fé. Osvaldo, de 32 anos, morador do Morro Bento, vê na crença um produto da imaginação humana.

“Para mim, isso é apenas superstição”, afirmou, com firmeza.

Já Cláudia, de 34 anos, residente na Rocha Pinto, diz que é possível identificar os sinais de que uma criança foi vítima de mau olhado.

“A criança começa a ter insónias, choros estranhos com voz diferente e comportamentos que não condizem com a sua idade”, explicou.

As consequências atribuídas ao mau olhado vão desde doenças inexplicáveis até bloqueios financeiros e familiares.

Dona Márcia, vendedora ambulante adverte, aos cidadãos a ter “ter cuidado com os elogios. Nem todos vêm do coração. O mundo já não está bom.”

Entre os crentes nesta realidade, são praticados alguns rituais de protecção. Um dos mais comuns é colocar fitas ou laços vermelhos nos pulsos das crianças, gesto que se acredita ter poder de defesa contra influências malignas.

Recorrer à protecção divina é outra alternativa apontada, por grande parte dos nossos entrevistados.

O usos de incensos é outro ritual enumeroado para as pessoas livrarem deste “mal”, por alegadamente o seu aroma ser capaz de afungentar maus espíritos.

“Quando alguém quer ter tudo o que o outro tem, é aí que começa o mau olhar”, alertou  Mariana Francisco, de 53 anos, moradora no Benfica.

Para Mariana Francisco, a inveja, o mau olhado e a feitiçaria são irmãos de sangue que têm contribuído para a desagregação de muitas famílias angolanas.

No fim de contas, este fenómeno não é apenas uma questão de crença,  é também um reflexo dos medos, das tensões sociais e das dinámicas de poder invisíveis que marcam o nosso quotidiano, como espelharam os entrevistados.

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