“HOMENS E MULHERES DA NOITE”: MITO OU EXPERIÊNCIA REAL?

Afinal, existe ou não o “homem e mulher da noite”? Como ocorre este fenómeno? Será apenas fruto da imaginação, ou há quem viva verdadeiramente esta realidade?

Vozes das ruas de Luanda

Enquanto uns consideram o fenómeno uma superstição enraizada em crenças espirituais e tradições orais, outros juram tratar-se de uma realidade espiritual perturbadora, vivida na pele e na alma.

Diante desta dicotomia, a reportagem do Portal Ponto de Situação saiu às ruas para ouvir diferentes vozes e experiências.

Adelino Kesseje, de 34 anos, trabalhador da construção civil e residente no bairro Sagrada Esperança, diz não acreditar.

“Se calhar não passa de uma imaginação. Parece-me uma questão psicológica. Já ouvi falar disso, mas não acredito. No mundo das trevas as pessoas afirmam que existe”, afirmou.

Adelino recomenda que quem vive estas experiências procure ajuda profissional na área da Psicologia, para um acompanhamento adequado.

Já Manuel António, 37 anos, casado e cristão praticante, defende que o fenómeno é real e espiritual.

“Homens e mulheres são possuídos por esses espíritos da noite, e vêm para destruir a vida das pessoas. Já ajudei algumas a libertarem-se por meio da oração”, afirmou.

Para Manuel António, a saída está numa vida baseada em oração, jejum e leitura da Palavra de Deus.

Dona Ana, também acredita na história de “homens e mulheres da noite” e conta ter pessoas próximas que já viveram estes episódios.

A cidadã disse ainda, que todos que vivem este fenómeno, sente dificuldades para evoluir em todos os aspectos da vida.

Relato  de quem vive o fenomeno marido da noite

No município da Samba, encontrámos dona Nela, que aparenta ter 30 anos, contou, entre lágrimas, o drama que vive desde a infância.

“Estou a viver o pior pesadelo da minha vida. Já perdi a auto-estima.”

Segundo relatos, tudo começou na infância: acordava exausta, e por vezes “molhada”, mas associava ao cansaço das brincadeiras. Só mais tarde percebeu que algo invisível a visitava à noite.

“Mesmo estando acompanhada, ninguém vê. Só quem está a viver é que sente. Eles são ciumentos. Não consegues manter uma relação séria com ninguém”, descreveu.

Numa ocasião marcante, decidiu dormir com o namorado em casa, mas mal entraram no quarto, algo inexplicável supostamente aconteceu.

“O homem da noite estava à porta. O meu namorado começou a gritar: ‘Esses são quem que estão no teu quarto?’ e foi-se embora. Nunca mais voltou”, recordou com cabisbaixa.

Nela afirma viver com esta entidade há mais de quatro anos e está agora a tentar libertar-se através da fé. Contou ainda, com o semblante triste, que não tem filhos no mundo real, mas já é mãe de três partos no mundo espiritual.

A presumível vítima deste fenómeno, que muitos dizem não acreditar, reforça ser um facto e espera por parte dos demais cidadãos, acreditarem em Deus e terem uma vivência baseada em oração.

Aos familiares que têm parentes nesta condição, exortou apoio incondicional para que o membro deste núcleo da sociedade consiga superar o problema, onde ela luta há anos para sair.

Pelo que apuramos, dos diversos interlocutores na capital angolana (Luanda), este fenómeno acontece somente no período nocturno e quem vive na pele o problema, nem sempre consegue dar por conta.

Crença comum em outras culturas

A reportagem cruzou fronteiras e apurou que em Moçambique, a crença nos “espíritos da noite” também existe.

Neste contexto, o fenómeno é frequentemente associado a forças espirituais que alegadamente interferem com a vida conjugal, emocional e social dos indivíduos. Em várias culturas africanas, estas entidades são tidas como causadoras de infertilidade, fracassos amorosos e bloqueios financeiros.

Contudo, não há qualquer comprovação científica. Especialistas classificam tais relatos como fenómenos ligados à paralisia do sono, alucinações hipnagógicas ou transtornos dissociativos, muitas vezes amplificados por factores culturais e religiosos.

Seja mito ou realidade, psicológico ou espiritual, o fenómeno “homem e mulher da noite” continua a mexer com a consciência colectiva  e com o silêncio íntimo de muitos que não ousam falar por medo, vergonha ou descrença alheia.

Ouça as declarações de dois cidadãos angolanos, que deixam o seu parecer em volta deste fenómeno.