ENTRE ÁTOMOS E AMEAÇAS: O IRÃO SOB O OLHAR DE TELAVIVE
Especialistas consideram que Israel possui tecnologia avançada para a produção de bombas nucleares, tendo elaborado, ao longo de vários anos, planos para atacar o programa nuclear iraniano, oficialmente descrito por Teerão como pacífico.

Segundo a média internacional, os iranianos entenderam antecipadamente que Israel poderia tentar sabotar o seu programa e, por isso, construíram o complexo de Fordow no interior de uma montanha, precisamente para dificultar qualquer ataque.
“O Irão aprendeu com o Iraque”, comentou Vali Nasr, especialista em assuntos iranianos e professor na Universidade Johns Hopkins, em entrevista ao jornal The New York Times.
De acordo com o jornal americano, Israel elaborou múltiplos planos para atacar Fordow, utilizando exclusivamente meios próprios. Um desses planos foi apresentado ao governo de Barack Obama: envolvia helicópteros israelitas transportando soldados que travariam combates para penetrar na instalação e destruí-la com explosivos.
Este tipo de operação lembra o ataque de Israel à Síria, no ano passado, onde foi destruída uma fábrica de mísseis do Hezbollah. Contudo, Fordow exigiria um esforço muito superior, dada a sua localização subterrânea.
As autoridades israelitas reconhecem que atingir Fordow seria logisticamente desafiante, motivo pelo qual os Estados Unidos têm mantido negociações diplomáticas com o Irão, há décadas, para limitar o avanço do seu programa nuclear.
Israel, os EUA e o espectro da acção militar
Os recentes ataques de Israel às instalações nucleares iranianas reacenderam o debate sobre uma possível intervenção directa dos EUA, substituindo os esforços diplomáticos por uma acção militar coordenada com Telavive.
No entanto, atingir o complexo nuclear de Teerão representa um desafio técnico colossal. Segundo fontes militares, as principais instalações nucleares iranianas estão enterradas em montanhas, a profundidades que as armas israelitas não conseguem alcançar.
Fordow: a fortaleza subterrânea
A instalação de Fordow foi construída especificamente para resistir a bombardeamentos aéreos. Encontra-se enterrada debaixo de uma montanha, protegida por dezenas de metros de rocha.
Em 1981, Israel conseguiu destruir uma instalação nuclear do Iraque, localizada à superfície, através de caças-bombardeiros. Mas Fordow não é comparável.
Segundo especialistas, Israel não possui actualmente armas com capacidade para destruir Fordow. As suas bombas antibunker, como a GBU-28, penetram até 6 metros de profundidade, muito aquém dos cerca de 80 metros de rocha e solo que protegem Fordow. Outras estimativas, citadas pelo Financial Times, apontam para profundidades até 800 metros.
“Já estive lá muitas vezes”, revelou Rafael Grossi, director da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), ao Financial Times.
“Para chegar às instalações, descemos por um túnel em espiral interminável.”
A única arma capaz: MOP
A única bomba conhecida com potencial para destruir Fordow é a Massive Ordnance Penetrator (MOP), uma bomba antibunker de 13,6 mil kg, desenvolvida pelos Estados Unidos. Este tipo de armamento só pode ser lançado por bombardeiros estratégicos B2, que apenas os EUA possuem.
Segundo o Financial Times, a MOP não tem propulsão: é lançada de grandes altitudes e guiada com precisão. Após atingir a profundidade máxima, explode com força devastadora.
“Para destruir Fordow, provavelmente seriam necessárias duas MOPs atingindo exactamente o mesmo ponto”, explicou Robert Pape, historiador militar, ao Financial Times.
“A Força Aérea dos EUA tem capacidade técnica, mas tal operação nunca foi realizada numa guerra real.”
O New York Times revelou ainda que o ex-presidente Donald Trump está a considerar o uso de bombardeiros B2 com MOPs para auxiliar Israel numa eventual acção contra o programa nuclear iraniano.