CIDADÃ MOÇAMBICANA DENUNCIA MAUS-TRATOS E HUMILHAÇÃO NA ESCOLA DE FORMAÇÃO POLICIAL DE MATALANE

Uma cidadã moçambicana, de 27 anos, casada, denunciou publicamente, através de uma carta, alegados maus-tratos, abusos e humilhações sofridos durante a sua formação na Escola de Matalane, instituição responsável pela preparação de novos efectivos da Polícia moçambicana.

CIDADÃ MOÇAMBICANA DENUNCIA MAUS-TRATOS E HUMILHAÇÃO NA ESCOLA DE FORMAÇÃO POLICIAL DE MATALANE

Na carta, a jovem descreve um ambiente marcado por privação, castigos físicos e condições desumanas, onde os formandos seriam obrigados a suportar frio, fome e humilhações constantes.

“Quando fui chamada para a formação policial em Matalane, pensei que Deus estava finalmente a abrir-me uma porta. Mal sabia eu que estava a entrar num inferno mascarado de disciplina”, escreveu.

A denunciante relata que os formandos dormiam no chão, com cobertores rotos, e que qualquer reclamação resultava em punições severas.

“Treinos até o corpo sangrar”, afirma no documento.

A cidadã moçambicana crescenta que alguns formandos eram vítimas de assédio e coerção por parte de instrutores, que usariam o poder e a autoridade para obter favores pessoais em troca de melhores condições ou alívio dos castigos.

“Queres comida quente? Obedece. Queres descanso? Faz silêncio”, descreve a carta, com relatos da alegada cultura de abuso e impunidade.

A jovem afirma ter cedido sob pressão e desespero, temendo represálias e movida pela necessidade de sobreviver. No final da formação, conta que descobriu estar grávida, sem saber identificar o autor da gestação.

“Carrego uma farda que pesa mais que o meu corpo e uma criança que veio do meu sofrimento”, escreveu.

A carta termina com um apelo às autoridades moçambicanas para investigarem as práticas dentro da Escola de Matalane, e com um pedido de justiça e dignidade para todas as mulheres que, “sofrem em silêncio”.

“Esta história não é só minha. É de muitas. Mas quase ninguém fala. Porque a vergonha é nossa. A culpa é nossa. E eles? Seguem livres!”, lamenta.

Até ao momento, as autoridades policiais moçambicanas não se pronunciaram oficialmente sobre as denúncias.

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