A VIAGEM DA GRATIDÃO

Numa viagem de um bairro a outro, a bordo de uma viatura, com quatro passageiros desconhecidos, ouvi repetidas vezes a canção da gratidão, essa melodia invisível que deve alimentar os nossos corações.

Caminhávamos juntos no silêncio do destino. Eu, viajando nos meus pensamentos sobre a sociedade e nas tarefas que me esperavam, mantinha os ouvidos atentos ao que se passava em meu redor. O motorista, também em silêncio, concentrava-se na estrada onde a terra batida ainda dominava sobre o asfalto.

As três passageiras, no banco detrás, animavam a viagem com conversas que cedo ganharam ritmo. Relatavam gestos que haviam marcado as suas vidas: ofertas recebidas dias antes.

“Fiquei muito feliz e, quando cheguei a casa, rezei muito pela senhora que me deu. Tem mãos leves e bom coração”, dizia uma delas, com emoção, enquanto nós, os estranhos, escutávamos em silêncio cúmplice.

Outra contou que também tinha recebido uma oferta na semana anterior e a terceira, entusiasmada, sublinhou que era necessário serem gratas, rezarem para que aquilo que foi dado se multiplicasse e que as finanças de quem ajudou também prosperassem.

Sorriram entre si e eu, no meu silêncio de lábios, deixei escapar a alegria de encontrar pessoas que ainda conhecem o valor da gratidão. Pouco depois, desci numa paragem do município da Samba, mas levei comigo a lição daquele instante.

De repente, pensei em tantas situações da vida. Recordei-me de textos e conversas em que já tinha defendido esta ideia: saber agradecer é uma virtude de pessoas grandes. Jamais devemos esquecer quem estendeu a mão no momento certo, quem acendeu a luz quando a noite parecia fechar-se.

Na nossa cultura africana, agradecer é também honrar os mais velhos, reconhecer quem abriu caminho, manter viva a memória da história, mas, infelizmente, são muitos os que cruzam o nosso caminho, recebem apoio e permanecem calados, sem ao menos dizer um “obrigado”,  seja em palavras, seja em gestos.

Não são obrigados de o fazer, mas é um gesto lindo de ser ver!

A psicologia moderna confirma o que a sabedoria ancestral já sabia: a gratidão fortalece vínculos, reduz a ansiedade e ajuda a criar sociedades mais solidárias. É vitamina para a alma e escudo contra a indiferença.

Por isso, reafirmo: a gratidão é um gesto dos fortes. Não é servidão, nem fraqueza,  é grandeza, é  o reconhecimento de que nada conquistamos sozinhos.

Sejamos gratos, sempre e  cultivemos esta virtude, para que tenhamos uma sociedade mais humana, mais consciente, mais capaz de viver com este espírito.

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