A CRÓNICA ANDA ATÉ ONDE A BOLA GIRA
Os nossos campos sentiram frio. O silêncio foi pesado, porque a bola, essa nossa rainha caprichosa, decidiu tirar férias. Férias merecidas, sim, mas que deixaram um vazio no coração de todos os amantes do desporto-rei.
Nos bastidores, os senhores que fazem acontecer a maravilha do jogo não descansaram. Foi uma autêntica maratona de reuniões, balanços e contratações. Questões administrativas revistas ao detalhe, jogadores dispensados, novos talentos apresentados à sociedade. Tudo para que, no momento do tiro de partida, nada falte e a época desportiva 2025/2026 possa cumprir o seu destino: ser melhor que a anterior.
A pré-época, para muitos clubes, foi uma travessia dura. Muitos sonhavam estagiar no estrangeiro, onde o relvado é macio e os equipamentos de treino são de última geração, mas faltou dinheiro e sem dinheiro, o sonho fica adiado. Agora, resta-nos esperar para ver quem terá aproveitado melhor o tempo: os que foram ao exterior ou os que ficaram a suar cá dentro. Haverá risos e choros, porque o futebol é feito disso mesmo.
No sábado, 13 de Setembro, o epicentro da emoção foi no Estádio 22 de Junho, casa dos “polícias” do Rocha Pinto. Ali, o Kabuscorp do Palanca (os rapazes da “Rui F”), mediram forças com o seu eterno rival, o Tricolor da Capital ( Petro de Luanda). Promessas de conquistas não faltaram, mas foi o Petro quem sorriu no final, com uma vitória robusta por 3-1 e ergueu o primeiro troféu do ano, referente a Supertaça.
Foi um bom cartão de visita para o arranque da época. Viu-se qualidade técnica, viu-se organização e viu-se, sobretudo, que há matéria-prima para fazer sonhar o adepto angolano.
Contudo, há detalhes que não podem passar despercebidos: as camisolas do Kabuscorp apresentaram-se sem os nomes dos jogadores. Uma falha que, segundo soubemos, será apenas temporária. Tem sido um problema comum no nosso campeonato onde pouquíssimos clubes cumprem com este detalhe, que parece mínimo mas, que faz a diferença!
O Girabola precisa de mais do que emoção, precisa de profissionalismo. Queremos reforços que sejam realmente reforços e não apenas números na folha de presença. Queremos treinadores ousados, jogadores com fome de vitória, árbitros justos, dirigentes que não tratem os clubes como quintais pessoais, adeptos que se sintam parte activa deste espectáculo. Queremos que cada jogo seja uma celebração e não uma tortura de paragens intermináveis e polémicas fora de campo.
Que a FAF, a ANCAF, os clubes, as forças de segurança e todos os que vivem deste espectáculo se unam para devolver ao futebol angolano o brilho que o povo exige. Que os nossos campos melhorem, que as bancadas encham, que os craques daqui brilhem "como o sol do meio dia".
O futebol angolano não pode viver eternamente de promessas e recordações de glórias passadas. É preciso profissionalismo, investimento sério e coragem para mudar o que está mal. A época 2025/2026 não pode ser apenas mais uma, precisa ser o ponto de viragem.
O Girabola é mais do que um campeonato, é identidade, é emoção, é escola de sonhos para milhares de jovens. Está na hora de lhe devolvermos a dignidade, de transformar cada jogo numa verdadeira festa popular. Que a bola gire, mas que gire com sentido, porque o país inteiro gira com ela.
O Girabola está de volta e nós estamos prontos para gritar, sofrer, festejar. Que a bola gire sem parar e que, ao girar, arraste connosco a esperança de ver o nosso futebol renascer em grande.
Bem-haja.
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