A CRÓNICA DA INCERTEZA
Em Luanda, a incerteza não chega de rompante. Primeiro, sopra como um murmúrio nas redes sociais, depois espalha-se como fumo que se entranha nos becos e nas conversas de esquina.
Esta segunda-feira, 11 de Agosto, Luanda acordou com um rumor a pairar no ar, fruto da informação de uma alegada paralisação dos taxistas, sem que houvesse um rosto visível.
Os líderes das associações do sector, com voz firme, tentaram afogar o boato, classificando-o como mera invenção, mas, na mente do cidadão comum, a dúvida já tinha plantado raízes.
“Hoje, parece domingo ou feriado. Está muito calmo…”, comentou uma senhora à porta da minha casa, trocando impressões com outra que encontrara casualmente na rua. O tom era de estranheza, quase de quem sussurra num velório.
O céu, num cinzento baço, parecia alinhar-se com a contenção das ruas. A circulação era tímida, quase preguiçosa. Muitos preferiram ficar recolhidos, como se as paredes de casa fossem mais seguras do que a promessa das autoridades, que garantiam:
“Está tudo sob controlo. A segurança no país é estável”.
Os taxistas, por seu lado, reiteravam que estariam nas ruas, prontos para trabalhar.
Ainda assim, vários responsáveis de empresas aconselharam os funcionários a não comparecer. Outros trabalhadores, mesmo sem ordens superiores, optaram pela ausência voluntária, preferiam perder um dia de salário a arriscar-se na incerteza do asfalto.
Luanda, nesse intervalo, vestiu-se com um manto de presença policial visível. Carros de patrulha, agentes em esquinas estratégicas, e um ar de prontidão que parecia querer evitar que o guião de Julho se repetisse. A ordem foi garantida e, onde houve movimento, a circulação fez-se sem sobressaltos.
No entanto, a tensão estava lá, invisível mas palpável. A incerteza é como uma nuvem que não chove, paira, obscurece, mas não se dissipa e, apesar do receio, muitos saíram para cumprir as agendas do dia, com passos atentos, olhos mais vivos e o coração a medir a cadência dos acontecimentos, pensando nos factos dos dias 28,29 e 30 de Julho, que terminou em cenas de vandalização e pilhagem.
No fim, nada aconteceu como os rumores pintavam, mas o dia ficou marcado, porque, mais do que carros nas ruas ou paragens vazias, foi o silêncio que deu o tom, um silêncio feito de espera, de cautela, de olhares que se cruzavam como se procurassem confirmação de que estava, de facto, tudo bem.
Em suma, entre a promessa de normalidade e o medo de um sobressalto, Luanda seguiu, desconfiada, mas em frente, rumo a mais uma nova jornada.