OS FILHOS SÃO MAIS DO PAI OU DA MÃE?
Em Luanda, o debate sobre a quem "pertencem" mais os filhos, se ao pai ou à mãe, continua a dividir opiniões. Para uns, trata-se de uma questão de afecto e responsabilidade, para outros, está enraizada em argumentos biológicos, sociais e até culturais.

Legalmente, mãe e pai partilham igualdade de direitos e deveres em relação aos filhos.
A ciência confirma que o ADN de uma criança é repartido em partes iguais entre ambos os progenitores. Ainda assim, a percepção social muitas vezes segue caminhos distintos e é isso que a equipa do Portal Ponto de Situação foi tentar perceber nas ruas do Morro Bento.
Logo no início da ronda, Jojó, de 53 anos, natural de Malanje e morador do Prenda, não hesitou.
"O filho é mais da mãe. Ela sabe quem é o pai e, é ela que carrega o bebé durante nove meses."
Para Fernandes, de 29 anos, ainda sem filhos, o instinto materno pesa mais, nesta questão.
"A criança sai do ventre da mãe. Ouço no mercado histórias de mulheres que traem os parceiros. Logo, essa criança é dela, não do pai”, defendeu.
Dona Emília, de 42 anos, residente no Benfica, trouxe outra camada ao debate, ao reprovar quem pense da mesma forma que os anteriores interlocutores.
"Muitos erros dos nossos filhos, somos nós, mães, que pagamos. A sociedade culpa-nos por tudo, mesmo quando os pais também têm a sua parte no processo educativo."
Já dona Odete, de 45 anos, vendedora no mercado da Madeira, há mais de uma década, defende uma visão mais harmoniosa e menos possessiva.
Na sua opinião, o filho não é um prémio, é uma bênção.
“ Mesmo depois do divórcio, os meus filhos ficaram com o pai, mas eu nunca deixei de os cuidar. Ser mãe é isso", contou.
Reconhece ainda que há crianças mais apegadas a um dos progenitores, mas atribui esse comportamento à forma como são tratadas.
As vozes ouvidas convergem num ponto essencial: filhos não são propriedade, são dádivas. A responsabilidade de educar e cuidar deve ser partilhada com equilíbrio emocional, legal e afectivo por ambos os progenitores.
“Não é uma questão de ‘pertencem a quem?’, mas de quem está presente com amor, com cuidado, com exemplo”, resumiu dona Odete, com a serenidade de quem já viu muito da vida.