O SACRIFÍCIO QUE MERECE SER HONRADO

Enquanto caminhava para a minha segunda casa, o lugar onde passo uma grande parte do meu tempo, pensei no enorme sacrifício que os pais fazem pelos filhos e pela família. Um sacrifício marcado por quedas profundas, por vitórias pequeninas, por lágrimas escondidas e por alegrias que nem sempre têm público. Muitos não têm ideia do preço pago.

A vida não é fácil: é luta diária. As vitórias surgem, sim, mas vêm sempre com suor. Hoje dirijo-me aos mais novos, aqueles que ainda não perceberam o valor de aproveitar uma oportunidade, de respeitar a luta diária dos progenitores. Muitos só compreenderão quando chegarem à idade adulta, quando também tiverem uma família (uns mais cedo, outros mais tarde).

Para pôr qualquer coisa na mesa, os pais choram às escondidas. Às vezes não mostram as lágrimas; buscam forças internas e  seguem em frente, mas a dor existe. Muitos progenitores deixam de realizar os seus sonhos para que os filhos persigam os deles e a maior alegria de um pai é ver que esse sacrifício não foi em vão: que o filho aproveitou, aprendeu, bebeu as lições deixadas.

Nem sempre estamos presentes da forma como vocês desejariam, mas estamos aqui a lutar para que sejam felizes, sois a razão primária das nossas batalhas. É doloroso assistir, dia após dia, jovens que brincam com o tempo e menosprezam os conselhos. Em vez de estudar, investem-no em namoricos passageiros, festas, álcool, consumo de drogas, distrações vazias. O tempo passa e, quando dão por isso, as consequências surgem: “ai, se eu soubesse…”,  frase que chega sempre tarde demais.

Namorar tem o seu tempo; o estudo, o seu. Não encarem aprender como perda de tempo: a educação é o maior investimento que um pai pode oferecer. Infelizmente, nem todos têm essa possibilidade, se a tens, brilha; honra quem te abriu a porta.

Vi, numa rua qualquer, uma conversa entre raparigas que me cortou o coração: “Ele não me dá nada, vou trocá-lo pelo [fulano].” Ri-me de dor. No fim dessas conversas, haverá crianças com crianças ao colo.

Também nós, pais, falhamos. Erramos, mas hoje peço atenção aos mais novos: a teimosia e a influência de terceiros têm marcado muitas vidas. Em vez de se juntarem a grupos de marginais, em vez de se deixarem seduzir pelo consumo de substâncias legais ou ilegais, concentrem-se no essencial. Não caiam em aventuras que não trazem futuro.

Comportamentos desviantes que vejo com frequência a serem praticados pelos mais novos e que precisam de ser travados: absentismo escolar, abandono precoce dos estudos, consumo de álcool e outras drogas, prostituição, agressões e violência doméstica, furtos e assaltos para financiar vícios, envolvimento com gangues, namoro e gravidez na adolescência, exibicionismo nas redes sociais que cria vergonha pública para a família, agressões verbais e físicas contra os pais, e o desrespeito sistemático que corrói lares. Estes caminhos levam, muitas vezes, a tragédias: prisões, mortes, famílias desfeitas.

Vi, esta semana, o relato desesperado de uma mãe brasileira que perdeu o filho numa operação policial no Rio de Janeiro. Chorava e dizia que nunca faltou conselho, que tentou avisar até ao último dia, mas o filho não ouviu. A partida foi prematura. É uma história entre tantas que se repetem, mas cada uma delas é um mundo de dor irreparável.

Filhos: reflitam. Ponderem o vosso futuro para não sentirem vergonha quando recordarem o passado, para não se arrependerem por impotência quando olharem para um presente mal construído. Há quem bata aos pais, quem os acuse de todos os males, quem lhes roube a casa ou os agrida. Lembrem-se: um dia também terão filhos. Que tipo de pais desejam ser?

Não é tudo culpa dos progenitores. Há pais que se dobram de esforço, que dão tudo, e são ignorados, mas também há filhos que parecem alheios ao suor derramado. Pensem. Mudem. Para que não haja arrependimentos que pesem como pedras no peito.

Ao leitor mais velho, à comunidade, às escolas, às igrejas, às ONGs e às autoridades, lanço um apelo: não deixem isto apenas nas palavras. Criemos programas de mentoria, espaços de aprendizagem práticos, apoio psicológico acessível, actividades culturais e desportivas que ocupem tempo e coração, campanhas que aproximem pais e filhos em diálogo verdadeiro. A prevenção exige presença  e investimento de todos.

Honra o sacrifício dos teus pais com boas acções. Não como castigo, mas como acto de gratidão. O mundo agradecer-te-á e, acima de tudo, os teus pais dormirão um pouco mais serenos.

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