TRIBO CONSIDERADA AQUÁTICA POR PASSAR MAIOR PARTE DO TEMPO DEBAIXO DA ÁGUA

Os Bajaus, conhecidos como o “povo do mar”, habitam regiões das Filipinas, Malásia e Indonésia, têm um modo de vida singular, por desenvolverem ao longo dos séculos uma relação profunda com o oceano.

TRIBO CONSIDERADA AQUÁTICA POR PASSAR MAIOR PARTE DO TEMPO DEBAIXO DA ÁGUA

Estudos mostram que alguns deles conseguem permanecer até 13 minutos submersos sem respirar, atingindo profundidades próximas a 60 metros. Essas adaptações físicas fazem dos Bajaus um exemplo raro de como a vida humana pode se moldar ao ambiente, aproximando-os de verdadeiros “seres aquáticos”.

O recorde mundial em apneia estática, em que o mergulhador apenas submerge sua cabeça dentro de uma piscina, é do espanhol Aleix Segura, de 36 anos. Em 2016, ele conseguiu ficar 24 minutos e 3,45 segundos submersso em uma piscina após inalar oxigênio puro.

A façanha de Segura foi possível após anos de experiência em mergulho livre, treinamentos e competições. Não se trata de uma capacidade inata, como a dos integrantes do povo Bajau, uma etnia com cerca de 1,1 milhão de pessoas residentes no sudeste da Ásia. apelidados como “ciganos do mar”, os Bajau são conhecidos pela habilidade em mergulho livre que os tornam excelentes caçadores e colectores subaquáticos.

Dotados apenas de uma máscara de proteção e pesos para reduzir a flutuabilidade, os caçadores submarinos do povo Bajau chegam a enfrentar jornadas diárias de 8 horas, das quais 5 horas são passadas na água, em mergulhos que podem levar até 13 minutos, em profundidades abaixo de 70 metros.

O que acontece quando prendemos a respiração?

Nosso corpo reage imediatamente quando submergimos a cabeça na água e prendemos a respiração. Tudo para concentrar a circulação de sangue nos órgãos vitais. A frequência cardíaca diminui, os vasos sanguíneos das extremidades reduzem de tamanho e o baço se contrai.

O baço é um órgão do sistema imunológico responsável por filtrar o sangue, reciclar glóbulos vermelhos danificados e produzir e armazenar glóbulos brancos. Quando ele se contrai durante a falta de ar, acaba liberando mais glóbulos vermelhos, fornecendo um suprimento extra de oxigênio para a corrente sanguínea.

Por ser um povo que habita as ilhas do sudeste asiático há centenas de anos, era de se esperar que a habilidade de mergulho dos Bajau tivesse sido adquirida por anos de prática como meio de subsistência. Mas o mistério intrigou cientistas das universidades de Copenhague (Dinamarca) e Berkeley (Califórnia, EUA), que decidiram ir a campo para descobrir o segredo por trás da habilidade.

Utilizando equipamentos de ultrassom portáteis, os cientistas mediram o tamanho do baço dos Bajau. E descobriram que, nesta população, o órgão chega a ser 50% maior do que em etnias vizinhas. A conclusão é de que um baço maior, quando contraído, libera mais glóbulos vermelhos para o sangue.

 

Herança genética

A princípio, a descoberta pode ser atribuída ao condicionamento físico dos mergulhadores. Porém, foi identificado que o tamanho do baço não variou entre indivíduos mergulhadores e não mergulhadores do povo Bajau. A questão teria uma explicação genética.

A segunda etapa do estudo incluiu uma análise genética do povo Bajau comparada com a de outras etnias asiáticas. A partir dela, os cientistas identificaram 25 mutações significativas no genoma dos Bajau. Uma delas é no gene PDE10A, associado ao tamanho do baço.

Com isso, a conclusão do estudo, publicado na revista científica inglesa Cell em 2018, é a de que a habilidade inata de mergulho livre do povo Bajau foi adquirida por meio de selecção natural.

Além de ressaltar a capacidade humana de se adaptar geneticamente aos diversos ambientes, a pesquisa também pode ser usada para ajudar no desenvolvimento de tratamentos médicos envolvendo distúrbios como apneia do sono e hipóxia em altitude elevada.

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