DE MENINO DE RUA A JORNALISTA: “GRAÇAS AO DESPREZO DOS AMIGOS E DA FAMÍLIA TORNEI-ME UM GRANDE HOMEM”
Leonilson Muquinda, de 38 anos, natural do Huambo, é hoje jornalista, professor, editor de vídeo, costureiro e comerciante. A sua história é feita de lágrimas, resistência e fé. Cresceu longe dos pais e, com apenas oito anos, vivia nas ruas, onde dançava para conseguir comer. “A dança salvou a minha vida”, recorda com emoção.

A infância marcada pela dor
Sem apoio familiar, Leonilson viveu vários anos nas ruas, onde aprendeu a sobreviver.
“Dormíamos debaixo dos prédios, mesmo em tempo de chuva. Foi um período muito triste”, contou ao Ponto de Situação.
Para se sustentar, tornou-se lavador de viaturas. Apesar das dificuldades, a força de vencer falava sempre mais alto.
Em 2015, decidiu continuar os estudos e inscreveu-se no curso de Comunicação Social, mas teve de abandonar o segundo ano por falta de condições financeiras. A necessidade obrigou-o a trabalhar como mototaxista durante três anos, no bairro Mirú, em Luanda.
“Cheguei a ser desprezado pelos colegas por ser motoqueiro”, lamenta.
Com o pouco que ganhava, frequentou um curso de corte e costura de três meses.
“A formação em costura deu um novo sabor à minha vida”, diz sorridente.
Entre sonhos e quedas
O sonho de ser jornalista nunca o abandonou. Em 2018, concluiu um curso de edição de vídeos e começou a estagiar como operador de câmara em vários órgãos de comunicação social. O primeiro estágio foi voluntário, sem qualquer remuneração, durante dois anos numa televisão comunitária.
“Trabalhei três anos sem receber um tostão. Mas aprendi muito”, relembra.
O internamento que mudou tudo
O profissional garante que o momento mais difícil da sua vida foi quando esteve internado durante três anos no hospital, onde os amigos e familiares o abandonaram, após ser diagnosticado com gastrite aguda.
Apesar de muitos o virarem costas, reconheceu que teve um amigo de infância, com quem partilhava às ruas, que o ajudou até a recuperação, inclusive o hospedou em sua residência, um gesto que declara ter sido de extrema importância para a reversão da sua história de vida e agradece pelo gesto.
Leonilson Muquinda afirmou que, hoje, é reconhecido pela mesma família que antes o rejeitava.
“Chamavam-me maluco por gostar de comunicação social. Actualmente, respeitam-me e orgulham-se de mim”, revelou.
A mão amiga do DJ Salgado
Entre os anjos que cruzaram o seu caminho, destaca o amigo e produtor DJ Salgado.
“Se não fosse o DJ Salgado, não sei o que seria de mim. Deu-me casa, comida e apoio quando todos me viraram as costas. É um irmão verdadeiro”, confessa.
Durante três anos viveu no estúdio de produção musical do amigo, em Viana, onde também aprendeu noções de produção musical, uma fase que classifica como dura, mas decisiva na mudança de sua história de vida.
Do vale à vitória
Actualemnte, Leonilson Muquinda, é conhecido como o “repórter das confianças”. Ensina edição de vídeo, confecciona roupa sob a marca Muquinda e inspira dezenas de jovens.
“O jornalismo é uma profissão nobre, mas não é de fazer dinheiro. Vive-se de prestígio e de amor à verdade”, sublinha.
Defende que o jornalista deve procurar outras formações para equilibrar a vida financeira.
Desprezado por ser lavador de carros e menino de rua, o também produtor, disse que transformou a dor em força. Apesar de ter vivido uma infância difícil, revela que sempre acreditou que alcançaria os seus sonhos.
Hoje, emprega vinte colaboradores e sonha em transformar a Muquinda numa referência nacional da moda, e em expandir a sua “TV Muquinda”, em uma plataforma digital de referência a nível nacional e não só.
O também músico afirma já ter formado mais de cinquenta jovens editores de vídeo e produtores musicais.
“Mesmo que parta para a eternidade, deixarei um legado para a nova geração amante do jornalismo”, garante.
Em 2019, foi assaltado em casa e perdeu todos os seus equipamentos, incluindo câmaras e máquinas de costura.
“Pensei que fosse o fim. Tive de pedir emprestado material para costurar e filmar. Foram meses difíceis, mas a vontade de vencer falou mais alto”, contou.
Quatro meses depois, reconstruiu tudo. Voltou a filmar casamentos, cultos e eventos, conquistando um público fiel em Luanda, ao ponto de ganhar reconhecimento diante do público.
“O Muquinda de ontem e o de hoje são pessoas diferentes. O de ontem dormia na rua. O de hoje pode falar com o Presidente da República”, disse, num ambiente de risos.
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