ESPECIALISTA EM LÍNGUA PORTUGUESA APONTA FACTORES QUE DIFICULTAM O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR EM ANGOLA
O revisor linguístico Jackson António considerou que as principais dificuldades de acesso ao Ensino Superior em Angola resultam da desigualdade socioeconómica da população, do número reduzido de universidades públicas e da distância entre as instituições de ensino e as zonas de residência dos estudantes.
“Basta olharmos para os estudantes que concluem o Ensino Médio em Angola, enfrentam grandes obstáculos para ingressar no Ensino Superior”, frisou o especialista.
Segundo Jackson António, o número de instituições de Ensino Médio é consideravelmente superior ao das instituições de Ensino Superior, o que se traduz num limite reduzido de vagas para os candidatos.
Questionado sobre o que poderia ser feito para inverter o quadro, o professor defendeu o aumento do número de universidades públicas como uma das medidas mais urgentes.
Contudo, reconheceu que a qualidade de ensino em Angola ainda não é satisfatória, sublinhando que “em África, as instituições não chegam ao top 10 do ranking continental das melhor posicionadas”.
O especialista em Língua Portuguesa apelou a um maior investimento governamental na educação e na investigação científica, de modo a elevar os padrões actuais.
“As nossas instituições estão mais voltadas para o ensino do que para a ciência e a investigação. Ainda estamos aquém”, lamentou.
Jackson António observou, ainda, que o país carece de professores qualificados em número suficiente para suprir as lacunas existentes no sistema educativo.
Dificuldades dos estudantes universitários do período pós-laboral
Na mesma entrevista ao Portal Ponto de Situação, Jackson António destacou as dificuldades enfrentadas pelos estudantes do período pós-laboral, motivadas por factores diversos, entre os quais o cansaço físico e psicológico, sobretudo entre aqueles que são chefes de família.
“Não é fácil ser um estudante nocturno e trabalhador. O aproveitamento académico nunca será o mesmo”, afirmou.
O revisor linguístico denunciou também que muitos estudantes frequentam universidades distantes das suas áreas de residência, o que leva à desistência de muitos. Acrescentou que a falta de iluminação pública e o aumento da criminalidade em determinados bairros tornam o percurso para as aulas um verdadeiro risco.
Entre as zonas mais afectadas, apontou Malueca, Estalagem, Santa Teresa e Belo Monte, no município de Cacuaco, onde o acesso a transportes constitui uma das maiores barreiras.
O especialista alertou igualmente para a necessidade de revisão linguística nos artigos científicos produzidos no país, de modo a garantir qualidade e rigor académico.
“É fundamental consultar um revisor linguístico antes da publicação, para assegurar o tratamento adequado dos textos científicos”, aconselhou.
Ainda segundo o docente, embora exista um número razoável de professores com graus de mestrado e doutoramento, o contingente ainda não é suficiente para cobrir a demanda do Ensino Superior.
“Precisamos continuar a trabalhar para ultrapassar as insuficiências que algumas instituições ainda apresentam”, frisou.
No encerramento da entrevista, Jackson António advertiu que os erros linguísticos persistem tanto entre estudantes do Ensino Médio como do Ensino Superior, o que se torna evidente nos trabalhos de fim de curso.
“As instituições devem ter maior cuidado com a revisão desses textos e, sempre que necessário, recorrer a profissionais especializados”, concluiu.
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