CAUSAS QUE LEVAM ADULTOS A URINAR NA CAMA

Urinar na cama durante o sono, fenómeno conhecido como enurese noturna, é comum na infância, mas pode persistir ou reaparecer na idade adulta, sendo, nestes casos, muitas vezes associada a transtornos psicológicos, conforme explicou o psicólogo clínico António Mabi Girão, em entrevista ao Portal Ponto de Situação.

CAUSAS QUE LEVAM ADULTOS A URINAR NA CAMA

Segundo o especialista, a enurese é a perda involuntária de urina durante o sono, sem que a pessoa se aperceba, e é considerada clinicamente significativa quando ocorre pelo menos duas vezes por semana, durante um período mínimo de três meses.

Apesar de ser um tema envolto em tabus, vergonha e constrangimento, o problema afecta milhares de pessoas e interfere negativamente na qualidade de vida e autoestima de quem o enfrenta.

A história de Madalena Paulo (nome fictício), ouvida pelo portal Ponto de Situação, reflecte essa realidade.

“Costumava dormir com o meu primo e a irmã dele. Ele tinha 15 anos e mijava na cama quase todas as noites. Acordava cedo, empurrava alguém para o lado onde tinha mijado, trocava de roupa e voltava a dormir noutro sítio”, contou.

“Muitas vezes zombavam dele, diziam: ‘mais velho e ainda faz xixi na cama’. Ele não falava nada. Evitava dormir fora de casa. Só parou por volta dos 18 anos, quando começou a dormir sozinho”, recorda.

Entre o corpo e a mente

O psicólogo Mabi Girão afirma que a ingestão excessiva de líquidos, os transtornos emocionais e condições médicas específicas são factores de risco na idade adulta.

“Primeiro, é fundamental excluir causas físicas, como infecções urinárias ou problemas na próstata, através de uma avaliação com um urologista. Se descartadas, o próximo passo é considerar as causas emocionais ou psicológicas, com o apoio de um psicólogo clínico”, orienta.

Embora nem todos os casos exijam intervenção psicológica, Mabi Girão salienta que a baixa autoestima, o isolamento social e o medo do julgamento podem agravar o quadro, sobretudo quando o adulto evita dormir fora de casa ou partilhar o problema com familiares ou parceiros.

“A enurese pode surgir como sintoma de depressão, ansiedade, trauma não resolvido, ou até ambiente familiar disfuncional. Nestes casos, o apoio psicológico é essencial, tanto para tratar as causas como para trabalhar a aceitação e a reconstrução emocional da pessoa afectada”, explicou.

Sem género, sem preconceito

O psicólogo destaca que a enurese afecta tanto homens como mulheres, e que não existe evidência de uma maior prevalência num género específico. Nos homens, alterações na próstata podem contribuir,  nas mulheres, factores relacionados com o ciclo menstrual podem interferir temporariamente, mas sem caracterizar enurese, se forem casos isolados.

“A enurese só é diagnosticada quando a perda de urina é recorrente e involuntária. Episódios pontuais não se enquadram no diagnóstico clínico”, frisou.

Vencer o silêncio, procurar ajuda

Para o especialista no ramo da psicologia, o maior desafio está em quebrar o silêncio e procurar ajuda especializada.

“Muitos adultos convivem com o problema durante anos, em segredo, por vergonha ou medo do estigma. Mas a enurese tem tratamento e, na maioria dos casos, cura”, assegura.

A recomendação é clara: procurar um urologista para avaliação clínica e, se necessário, um psicólogo para apoio emocional.

 “É preciso coragem, mas é possível vencer. Ignorar o problema só adia a solução”, conclui o especialista.