RINOCERONTES BRANCOS-DO-NORTE EM VIA DE EXTINÇÃO PROTEGIDOS 24 HORAS POR DIA
Numa reserva natural no centro do Quénia, os últimos dois rinocerontes-brancos-do-norte que restam no mundo vivem sob vigilância armada permanente, numa tentativa desesperada de salvar a subespécie da extinção.
O documentário “The Last Rhinos: A New Hope”, estreado a 24 de Agosto no National Geographic e agora disponível no Disney+, acompanha cientistas e guardas que dedicam as suas vidas a proteger estes animais.
A narrativa inicia-se com os últimos momentos de Sudan, o último macho da subespécie, que foi eutanasiado em 2018, aos 45 anos, devido ao agravamento do seu estado de saúde. Restaram apenas Najin, com 36 anos, e a sua filha Fatu, de 25, as duas últimas representantes vivas do rinoceronte-branco-do-norte.
A fotógrafa Ami Vitale, que acompanha a espécie desde 2009, retrata no filme a luta diária de cientistas e cuidadores, que passam mais tempo com os rinocerontes do que com as suas próprias famílias.
O projecto de resgate recorre a técnicas de fertilização in vitro (FIV), utilizando esperma recolhido de machos já falecidos e óvulos colectados de Fatu. Najin, devido à idade e fragilidade física, já não participa no processo. Até agora, o consórcio BioRescue conseguiu produzir 38 embriões viáveis.
Como nem Najin nem Fatu podem suportar gestações, estão a ser usadas fêmeas de rinoceronte-branco-do-sul como “barrigas de aluguer”. Em 2023, uma dessas fêmeas, chamada Curra, morreu devido a uma infecção bacteriana, mas a autópsia revelou o primeiro feto de rinoceronte-branco-do-norte concebido por FIV no mundo, com 70 dias de desenvolvimento.
Segundo Jan Stejskal, coordenador do BioRescue e director do Safari Park Dvůr Králové (República Checa), o feito representa um marco científico, mas também evidencia a pressão e os riscos envolvidos. “Nada disto alguma vez foi feito antes”, sublinhou.
Actualmente, sobrevivem apenas cinco espécies de rinocerontes entre África e Ásia. O rinoceronte-branco-do-sul conta com cerca de 17 mil indivíduos, sobretudo na África do Sul, estando classificado como “quase ameaçado”. Já os rinocerontes de Java e de Sumatra, ambos na Indonésia, enfrentam um cenário ainda mais crítico, com menos de 50 indivíduos cada.
Stejskal defende que o projecto de reprodução assistida poderá ser aplicado a outras espécies em risco, embora enfrente enormes desafios técnicos, desde a administração correcta da anestesia a animais que pesam toneladas até à sincronização da implantação dos embriões.
Nenhum embrião de rinoceronte-branco-do-norte resultou ainda numa gestação bem-sucedida até ao fim, mas os cientistas mantêm-se esperançosos. Para eles, o documentário pode ser um catalisador para despertar consciências e reforçar a urgência da conservação.
“O avanço tecnológico não pode servir de desculpa para continuarmos a esgotar a natureza”, alertou Stejskal.
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