TRANSPORTE E CUSTOS ELEVADOS AGRAVAM DESAFIOS DOS ESTUDANTES NOCTURNOS
Os estudantes do ensino superior dizem enfrentar várias dificuldades no período nocturno, sobretudo devido aos gastos elevados com o transporte de casa para as instituições e vice-versa.

Com o arranque do novo ano lectivo, multiplicam-se as vozes que voltam a levantar uma problemática antiga, sobre a falta de transporte seguro e acessível, principalmente no regresso a casa.
Muitos afirmam que são obrigados a percorrer longas distâncias a pé, quando os táxis estão escassos. Outros relatam que, pela hora tardia em que terminam as aulas, já não há táxis disponíveis, e acabam por recorrer aos mototaxistas, que cobram valores altos em comparação com os “azuis e brancos”.
Há também quem opte por táxis personalizados, mas que, em alguns casos, recusam-se a entrar em certos bairros, por questões de segurança ligadas à criminalidade.
“Somos movidos por um sonho”
Éber Ferreira, de 34 anos, trabalhador por conta própria e estudante universitário, é um dos que vive este dilema.
“Somos movidos por um desejo e um sonho. Uma das formas de aliviar este contratempo seria inscrevermo-nos em universidades próximas das nossas residências, para gastar menos e não faltar às aulas”, explicou.
O jovem defendeu que o Governo devia construir mais instituições públicas em zonas próximas das comunidades.
“As universidades privadas continuam em maior número e muitos jovens não têm condições financeiras para suportar os custos”, acrescentou.
Éber deixou ainda uma mensagem de encorajamento, para os colegas que de igual modo enfrentam o mesmo desafio, pois, acredita que, com maior ou menor dificuldade poderão alcançar o sonho esperado, o de obter o grau de licenciado.
Já Esmeralda Xaquete, de 22 anos, estudante do período pós-laboral, partilha uma rotina marcada pelo cansaço e insegurança.
“Imagina sair da última aula às 22h00… é muito estressante! E ainda há professores que não respeitam os horários”, lamentou.
A jovem denunciou ainda casos de corrupção académica, o que segundo a interlocutora, leva com que muitos estudantes desmotivem-se quando percebem que o mérito nem sempre é reconhecido.
“Estamos em universidades que já não nos ajudam. Há corrupção nas notas, e os lotadores que deviam apoiar-nos, por vezes são os mesmos que nos assaltam. É muita dificuldade”, desabafou.
Esmeralda Xaquete sugeriu que as universidades deviam disponibilizar meios de transporte próprios para apoiar os estudantes do período nocturno.
“Pensem bem antes de entrar numa instituição, para depois não desistirem no meio do caminho”, aconselhou.
Santos da Silva, de 35 anos, morador do bairro Prenda, partilha a mesma angústia.
“Com um salário mínimo de 100 mil kwanzas, pagar propina e ainda o táxi é muito dispendioso”, disse.
O estudante acrescentou que, devido aos baixos rendimentos, muitos acabam por desistir do ensino superior.
“Às vezes nem conseguimos gerir o dinheiro do táxi, quanto mais a mensalidade, que não está barata. Por isso há tantos desistentes.”
Santos da Silva apelou às autoridades para reverem as políticas de apoio à formação.
“Se houvesse uma taxa simbólica, entre 10 e 15 mil kwanzas por mês, ajudaria muito e se o preço do táxi baixasse para 200 ou 150 kwanzas, seria um grande alívio”, concluiu.