MARGINAIS RECORREM A “HACKERS” PARA DESBLOQUEAR TELEMÓVEIS ROUBADOS
Luanda assiste a uma procura crescente por “hackers”, técnicos que desbloqueiam telemóveis de qualquer origem, num negócio que, segundo populares, prospera entre clientes legítimos e marginais.
É comum encontrar cidadãos que, após esquecerem os códigos de acesso dos seus telemóveis, recorrem a mercados ou ruas onde operam “técnicos informáticos” que prestam serviços de reparação ou desbloqueio de aparelhos electrónicos.
Um dos locais mais referidos é o mercado dos Congolenses, ponto conhecido pela presença de técnicos de várias nacionalidades. Segundo apurámos, dificilmente alguém sai de lá sem solução.
O jovem de 22 anos, identificado como David Manuel, contou que já foi duas vezes aos Congolenses. Na primeira, conseguiu resolver o problema sem precisar apresentar qualquer prova de propriedade do telemóvel.
Na segunda, porém, teve menos sorte. O aparelho era um iPhone, e, segundo a fonte, acabou por ser interpelado por agentes do Serviço de Investigação Criminal (SIC), que lhe exigiram provas da origem do dispositivo.
“Não sei quem os avisou para virem ter comigo. Fiquei com medo”, relatou.
David Manuel presume que tenha sido o próprio técnico a alertar as autoridades.
Prevenido, levava consigo a documentação do aparelho, pois já conhecia casos de pessoas que perderam os telemóveis por suspeita de furto. Depois de provar ser o legítimo proprietário, conseguiu resolver o problema e regressou satisfeito, mas com uma lição de vida.
“Ter sempre os documentos guardados, não importa quanto tempo passe”. Alertou.
Pelo que apuramos, há maior facilidade em desbloquear aparelhos Android, por não necessitar de conta Google.
Outro cidadão, Sérgio Domingos, contou que foi aos Congolenses com um iPhone, oferecido pelo patrão. Pouco depois de entregar o aparelho a um técnico, foi interpelado por supostos agentes do SIC, que apreenderam o telemóvel por falta de documentação.
Convencido de que o técnico o denunciara, o entrevistado contactou o filho do falecido patrão, que se apresentou, mas sem qualquer prova documental, o que dificultou ter o telemóvel de volta, inclusive a esposa do antigo “boss” como fez menção na entrevista, desconhecia o paradeiro do documento.
“Aconselho todas as pessoas a guardar bem os documentos e, se receber um telemóvel de oferta, que exija uma declaração. É a única forma de provar ser o dono”, alertou Sérgio Domingos, ainda triste por ter perdido a lembrança do seu antigo patrão.
Testemunho de quem faz da actividade um ganha-pão
Os jovens que se dedicam a retirar códigos de telemóveis afirmam que o negócio é rentável. Dizem que, no geral, a preocupação é apenas receber o pagamento, independentemente da origem do aparelho.
Estes técnicos, também chamados de “hackers” pela capacidade de resolverem desde falhas simples até as mais complexas, reconhecem a irregularidade de desbloquear telemóveis sem exigir provas de propriedade.
Mestre “Doctor”, como é conhecido, contou que cobra valores que podem chegar aos 40 mil kwanzas, dependendo da marca e da dificuldade. Se não consegue resolver o problema, procura ajuda noutros colegas.
Não importa o tempo que leve para devolver alegria ao dono do meio, dificilmente desiste da batalha, garantiu a fonte.
Natural de Luanda, contou que aprendeu a arte com um amigo e foi aperfeiçoando com pesquisas. Admitiu, que os riscos são reais. Alguns colegas já foram detidos por desbloquear aparelhos posteriormente identificados como roubados.
Outro técnico, Mestre João, que trabalha no Cassequel, confirmou que há colegas que colaboram directamente com delinquentes.
“Pagam um valor aos amigos do alheio, tiram os códigos e depois vendem o telemóvel.”
“Estava em casa quando um colega ligou a dizer que tinha alguém no mercado com um telemóvel para desbloquear. Fui lá, fiz o trabalho. Pouco depois, o cliente apareceu algemado com o dono e a polícia”, contou, sob anonimato, o técnico que vivenciou este episódio na Praça Nova do Catinton.
O técnico foi detido por algumas horas e libertado após um aviso severo para não voltar a desbloquear aparelhos sem documentação e, sempre que suspeitar, deve alertar as autoridades.
Apesar disso, confessa que continua a exercer a actividade, por considerá-la lucrativa, embora arriscada.
Chamado à responsabilidade
Os cidadãos pedem maior fiscalização das autoridades, pese embora reconheçam que, esta prática ajude muitos a recuperar o acesso aos seus aparelhos, também incentiva os assaltos, pois os marginais sabem onde podem desbloquear os dispositivos com facilidade.
Por outro lado, alertam para a existência de indivíduos que se fazem passar por agentes da Polícia ou do SIC para se apoderarem dos telemóveis.
Os interlocutores reafirmam que, em Luanda, o mercado dos Congolenses continua a ser o epicentro deste negócio, onde, em qualquer esquina, é possível encontrar jovens que prestam serviços de desbloqueio sem qualquer regulamentação.
De salientar estes técnicos dominam técnicas que contornam as barreiras oficiais, o que permite reactivar o aparelho sem precisar de senha ou conta google.