CAMPONESES DENUNCIAM TORTURAS FÍSICAS DE SUPOSTOS INVASORES DE TERRENOS NO MUNICÍPIO DO SEQUELE
Mais de 400 camponesas denunciaram, nesta sexta-feira, 11 de Julho, alegadas agressões físicas e a invasão das suas lavras, localizadas no bairro P.P.H.S, no município do Sequele. Segundo as queixosas, as acções estariam a ser orquestradas pelo presidente do Conselho Fiscal da Comissão de Moradores, Mendes Quissama.

A situação, descrita como um verdadeiro “inferno”, tem afectado gravemente a vida das mulheres que vivem da agricultura de subsistência naquela zona periférica.
Entre as denúncias, destaca-se a de Luzia João, camponesa de 58 anos, residente no bairro desde 1987, que aponta a utilização de instrumentos contundentes por parte dos fiscais da Comissão de Moradores para impedir o acesso às terras.
“Estão a dar-nos muita burrada! Quero saber se somos povo ou estrangeiros? Até parece que o estrangeiro tem mais direito do que nós! Batem-nos com catanas e facas!”, desabafa Luzia João, em lágrimas.
Luzia vai mais longe e acusa Mendes Quissama de ter mandado matar um membro da sua família, alegando que este coordena um grupo de jovens, identificados como Pedro Pneus, Mulanza, Sami e Carlos que actua em turnos e recebe terrenos de forma alegadamente ilegal, há mais de cinco anos.
Já Idália Lourenço, também camponesa e moradora do bairro desde 1987, afirma que a tranquilidade da comunidade foi abalada desde a chegada do actual coordenador.
“Antes do senhor Mendes, vivíamos em paz. Agora, até as nossas casas estão a ser tomadas. Cada ida à lavra é uma batalha. Somos agredidas por fiscais orientados pela Comissão de Moradores”, denuncia Idália.
Por sua vez, Luís Pascoal Albino, representante das camponesas há três anos, reforça que a comunidade está a ser alvo de uma invasão organizada por indivíduos provenientes do bairro Mucola-Angola, que alegadamente afirmam actuar sob ordens do Comando Provincial, o que o representante considera uma manobra de legitimação abusiva.
“Algumas camponesas perderam a vida por resistirem. A minha própria tia foi assassinada, e foi então que me chamaram para representar estas mães abandonadas à sua sorte”, relatou Luís Albino, que contabiliza 413 mulheres afectadas directamente pelo conflito.
O líder comunitário afirma ainda que os supostos invasores terão chegado à zona em 2016, após não terem conseguido ocupar terrenos no projecto Maye-Maye, durante a governação de Higino Carneiro.
Em declarações ao Ponto de Situação, Mendes Simão Quissola, presidente do Conselho Fiscal da Comissão de Moradores do P.P.H.S, rejeitou todas as acusações.
“Não invadimos terrenos de camponesas. Foram as residências delas que foram demolidas pela Administração do Distrito do Sequele. São elas as invasoras”.
Quissola garante que as declarações feitas pelas camponesas “não correspondem à verdade” e que a narrativa divulgada visa manchar a imagem da Comissão de Moradores.
Ouça os pronunciamentos do representante da Comissão de Moradores clicando aqui!CONTRADITÓRIO