JOÃO LOURENÇO PROPÕE FINANCIAMENTO DOS BRICS PARA IMPULSIONAR O DESENVOLVIMENTO DE ÁFRICA
O presidente de Angola e da União Africana, João Lourenço, defendeu, esta semana, durante o seu discurso na Cimeira dos BRICS, realizada no Rio de Janeiro, a necessidade de um financiamento robusto por parte da organização, de modo a dar resposta aos múltiplos desafios que África enfrenta.

A proposta foi apresentada num contexto em que os países do Sul Global, oriundos de diversas regiões do planeta, se reúnem em torno de objectivos comuns, que visa combater a pobreza, mitigar as desigualdades e colmatar as inúmeras carências que afectam uma vasta parte da população mundial.
Segundo João Lourenço, a sua presença na 17ª Cimeira dos líderes dos BRICS, deve-se à convicção de que este é o palco certo para reflectir e trocar ideias sobre o imenso potencial do Sul Global, com vista a aprofundar a cooperação multilateral e a forjar parcerias sólidas que contribuam para o desenvolvimento económico e social dos respectivos países.
“Não posso deixar de dizer que as nações do Sul Global têm clamado, ao longo de décadas, pela sua inclusão nas discussões e decisões sobre os factores do desenvolvimento. Factores esses que devem ser justos, equilibrados e sensíveis às preocupações fundamentais destas nações, mas, infelizmente, ainda não conseguimos ser plenamente ouvidos”, afirmou o líder da União Africana.
O estadista angolano reiterou também a importância de um possível apoio financeiro da organização para viabilizar projectos estruturantes em África. Entre os sectores prioritários, apontou a agricultura, a saúde, a educação, a ciência e tecnologia, a energia, os transportes e as telecomunicações, todos pilares essenciais do desenvolvimento africano.
Nesse sentido, anunciou que, em Fevereiro deste ano, a União Africana decidiu organizar uma grande conferência sob o lema “Infra-estruturas como Factor de Desenvolvimento em África”, a ter lugar em Outubro próximo, em Angola. O encontro procurará atrair parcerias estratégicas, num quadro de vantagens mútuas, com vista à concretização de um sonho longínquo e urgente, que visa edificar um continente moderno, integrado e competitivo.
No seu discurso, João Lourenço lembrou que as instituições de governação global, criadas no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, já não reflectem as realidades do mundo contemporâneo.
“Com as transformações profundas registadas nas últimas oito décadas, essas instituições devem adaptar-se às novas realidades. Infelizmente, os esforços nesse sentido têm ficado aquém das expectativas da maioria global”, lamentou.
Defendeu que os BRICS podem e devem desempenhar um papel relevante na busca de maior equilíbrio na governação mundial, promovendo uma articulação mais justa entre os países desenvolvidos e os do Sul Global.
João Lourenço salientou, ainda, a necessidade urgente de reforçar o multilateralismo, actualmente ameaçado por forças que alimentam tensões e instabilidade por todo o globo.
Referiu-se também à Agenda 2063 da União Africana, como a matriz estratégica do continente para o seu desenvolvimento sustentável. Disse que a articulação com as instituições financeiras dos BRICS será crucial para alavancar as economias africanas, sobretudo através do investimento em infra-estruturas que promovam a electrificação, a industrialização e a operacionalização da Zona de Comércio Livre Continental Africana.
“Temos plena consciência de que estamos diante de um desafio incontornável, que teremos de enfrentar e vencer, se quisermos garantir a inclusão efectiva de África na economia mundial, com contributos relevantes para resolver crises como a alimentar e a energética”, afirmou o Presidente angolano.
Num tom assertivo e de compromisso com a paz, João Lourenço apelou também ao fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, bem como ao cessar imediato do conflito entre a RDC e o Ruanda, um embate que há décadas mina a estabilidade dos Grandes Lagos. Mencionou ainda a crise no Sudão, o avanço do terrorismo no Sahel, no Corno de África e, em particular, na Somália.
Ao abordar a situação no Médio Oriente, condenou o genocídio do povo palestiniano na Faixa de Gaza, exigindo o fim dos colonatos e o cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, em especial no que respeita à criação do Estado da Palestina.
“Falo-vos em nome de África, aqui no Brasil, país com o qual partilhamos laços históricos profundos que remontam a séculos, e que confere a esta nação uma sensibilidade especial para com as causas africanas. Um aliado valioso, agora prestes a assumir a presidência rotativa dos BRICS”, concluiu João Lourenço.