MAIS DE 500 MORTES EM PORTUGAL LIGADAS A FONTES DE ÁGUA INSALUBRES

O hidrobiólogo Adriano Bordalo defende uma acção conjunta entre os ministérios da Saúde e do Ambiente, na sequência de dados alarmantes divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que revelam a morte de mais de 500 pessoas em 2023, em Portugal, devido ao consumo de água proveniente de fontes sem tratamento adequado.

MAIS DE 500 MORTES EM PORTUGAL LIGADAS A FONTES DE ÁGUA INSALUBRES

Segundo o INE, foram registadas 518 mortes no ano passado atribuídas a doenças causadas por água contaminada ou por ausência de condições básicas de saneamento e higiene. Trata-se do número mais elevado desde 2010, quando se registavam 1,1 óbitos por 100 mil habitantes, valor que em 2023 subiu para 4,9 por 100 mil.

A tendência crescente já se verificava em anos anteriores:

  • 2020: 413 mortes (4%)
  • 2021: 398 mortes (3,8%)
  • 2022: 472 mortes (4,5%)
  • 2023: 518 mortes (4,9%)

Segundo os dados oficiais, 57% das vítimas tinham mais de 85 anos, enquanto 28% pertenciam à faixa etária dos 75 aos 84 anos. O grupo dos bebés com menos de um ano também aparece afectado, com uma taxa de mortalidade de 4,9 por 100 mil.
Seis em cada dez mortos foram mulheres.

De acordo com o INE, estas mortes estão associadas a doenças como cólera, febre tifóide, shigelose, infecções intestinais bacterianas e parasitárias enfermidades que podem causar atrasos no desenvolvimento físico e enfraquecimento generalizado do organismo, sobretudo em pessoas mais vulneráveis.

Alerta de especialistas para uma questão cultural e estrutural

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Bernardo Gomes, salientou a importância de se perceber se este fenómeno “tem tradição territorial, nomeadamente em termos de padrões culturais de uso de água não controlada”.

Por sua vez, o hidrobiólogo Adriano Bordalo alertou para a necessidade de um esforço conjunto entre os sectores da Saúde e do Ambiente. “Só um trabalho articulado poderá levar à definição de acções de correcção”, afirmou.

Bordalo acrescenta: “Se os estudos não forem realizados, não conseguiremos melhorar a saúde da nossa população”.