200 MIL MANIFESTANTES SAEM ÀS RUAS EM PROTESTO NA FRANÇA

Cerca de 200 mil manifestantes do movimento “Bloquons tout” (em português, “Bloqueiem tudo”) saíram às ruas de França, esta quarta-feira, 10 de Setembro, tentando paralisar os transportes e a vida quotidiana em todo o país.

200 MIL MANIFESTANTES SAEM ÀS RUAS EM PROTESTO NA FRANÇA

O protesto acontece dois dias depois do colapso do governo do primeiro-ministro François Bayrou, na sequência de medidas de austeridade consideradas impopulares.

Segundo o Ministério do Interior, foram detidas 473 pessoas ao longo do dia. Ao final da tarde, as autoridades contabilizavam cerca de 200 mil participantes, número que a central sindical CGT contesta, garantindo que nas manifestações estiveram mais de 250 mil pessoas.

Até às 18h00 tinham sido registadas 812 ocorrências, entre as quais 550 ajuntamentos e 262 bloqueios. Treze agentes das forças de segurança ficaram feridos, embora sem gravidade. Para fazer face aos protestos, foram mobilizados 80 mil polícias e gendarmes, num dos maiores dispositivos de segurança do ano.

Protestos espalhados por Paris e outras cidades

Em Paris, os manifestantes ergueram barricadas, incendiaram caixotes do lixo e tentaram bloquear a circular, a auto-estrada urbana mais movimentada da Europa. Pela manhã, grupos tentaram obstruir os carris do eléctrico na zona da Porte de Montreuil, no leste da capital, sendo rapidamente dispersados pela polícia.

As tensões subiram de tom junto à Gare du Nord, uma das maiores estações ferroviárias da Europa, levando ao encerramento temporário dos acessos. As forças da ordem recorreram a gás lacrimogéneo para dispersar as multidões, deixando passageiros e transeuntes no meio do caos.

Apesar de os maiores ajuntamentos, registados na Place du Châtelet e na Place des Fêtes, terem decorrido de forma relativamente pacífica, o clima de raiva manteve-se ao longo do dia.

Contestação à escolha de Lecornu

Vários manifestantes expressaram desagrado pela nomeação de Sébastien Lecornu, antigo ministro da Defesa e aliado de longa data do presidente Emmanuel Macron, para primeiro-ministro.

“É como se nos estivesse a mostrar o dedo do meio”, afirmou Pierrick, professor do ensino básico. Tal como outros protestantes, esperava que Macron se aproximasse da esquerda política.

A coligação Nova Frente Popular (NFP) conquistou a maioria dos assentos no Parlamento nas legislativas antecipadas do verão, mas sem alcançar maioria absoluta, obrigando o presidente a negociar soluções de governação.

Marie, estudante e actriz, disse à Euronews que saiu à rua para protestar contra os cortes que vão afectar o sector cultural.

“Hoje estamos aqui para mostrar a Macron que estamos fartos de tudo isto. Ele não pode continuar a ignorar-nos e a ignorar o que o povo quer.”

Outros cidadãos mostraram-se mais cautelosos, alegando que concorda que devemos ter o direito de protestar, mas não acha certo a vandalização que está a ser levada a cabo.

“Quem paga somos nós, os contribuintes”, afirmou Nesrine, gestora de projectos em Montreuil.

O que é o “Bloqueiem tudo”?

Este movimento sem liderança definida nasceu da indignação popular contra a inflação, a austeridade e a alegada desconexão da classe política. Ao contrário dos “Coletes Amarelos”, que tinham uma estrutura mais organizada em 2018, o “Bloqueiem tudo” espalhou-se de forma descentralizada, com forte mobilização online.

Os sindicatos CGT e SUD declararam apoio às acções desta quarta-feira e convocaram novas greves para 18 de Setembro. Uma sondagem da Ipsos revela que 46% dos franceses apoiam o movimento, número que inclui eleitores de esquerda e mais de metade dos simpatizantes da extrema-direita do Rassemblement National.

Os profissionais de saúde e farmacêuticos também aderiram aos protestos, denunciando os cortes nos reembolsos médicos e alertando que cerca de 6.000 das 20.000 farmácias do país correm risco de encerramento.

O governo de Bayrou tinha proposto, entre outras medidas, o corte de dois feriados nacionais para reduzir o défice público, o que desencadeou forte indignação. Há manifestantes a exigir que Macron dissolva a Assembleia Nacional e convoque novas eleições.

“É hora de Macron e os políticos perceberem que estamos a falar a sério”, disse Thomas, estudante universitário.

“Estamos indignados com um sistema que continua a favorecer os ultra-ricos e as grandes empresas que não pagam impostos suficientes”.