A DOR DA PERDA E A LUTA PELA HERANÇA: DE QUEM SÃO OS BENS DO FALECIDO?
É frequente ouvirmos relatos de mulheres que, após ficarem viúvas, vêem os bens deixados pelo marido a serem tomados pelos familiares do mesmo. Por que razão isso acontece?

Jojó, de 53 anos, afirma que a questão de uma viúva ficar ou não com os bens do falecido depende muito do tipo de família e até da geração.
“No passado, os tios herdavam tudo, por desconfiança quanto à fidelidade da viúva, mas, hoje em dia, a situação já mudou. Desde que a mulher não tenha negado que os filhos são do falecido, então é direito dela ficar com os bens que o marido deixou”, defendeu.
De forma contundente, acrescentou para quem tem este tipo de comportamento de herdar o que não os pertence. Trabalhem e conquistem o que é vosso!”
Dona Emília, viúva e mãe de dois filhos, lamenta a ambição que, segundo ela, leva muitas pessoas a tomarem posse de bens que não lhes pertencem.
“É bom ouvir, mas viver é diferente... parece até que conhece a minha história”, disse, com um sorriso amargo.
“As coisas não são como parecem de fora”, alertou.
Dona Emília contou que viveu durante 14 anos com o marido numa casa construída num terreno oferecido pela sogra, mas, após a morte do companheiro, a sogra declarou que a casa era sua, ignorando o destino dos netos. Recebeu o imóvel sem pensar duas vezes.
A viúva diz que a sua família nada pôde fazer, já que o terreno estava em nome da sogra. Restou-lhe abandonar a casa e perder tudo aquilo que construíra ao longo dos anos com o falecido, fruto de muito esforço.
“Quando um pai morre e deixa bens, esses bens são para os filhos, não para oresto da família”, desabafou e conselh:
“Nunca construam em terreno oferecido pela sogra. Muitas delas envenenam os filhos com lavagem cerebral.”
Fernandes, 29 anos, morador da Vila do Gamek, considera que a falta de carácter leva muitos familiares a apoderarem-se dos bens destinados à viúva.
“Como é possível uma mulher que viveu comigo tantos anos não ter direito a nada depois da minha morte? Não entendo como a minha família viria buscar aquilo que eu trabalhei para os meus filhos. Isso não faz sentido”, disse, esperançado de que o cenário mude num futuro próximo.
Já o senhor Fremindo admite que há famílias que fazem a partilha dos bens com justiça, mas alerta, que o lógico seria nunca ficarem com tudo e que se deve pensar na família restrita que o malogrado deixou.
Populares em Luanda foram unânimes, em concluir que as viúvas têm, sim, o direito e o dever de ficar com aquilo que ajudaram a construir durante o casamento. Para muitos, o problema é claro e há famílias que querem colher os frutos que nunca se atreveram a plantar.
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