CONFRONTO ENTRE POLÍCIA E JOVENS MARCA PRIMEIRO DIA DA PARALISAÇÃO DOS TAXISTAS
O primeiro dia da paralisação dos profissionais do volante ficou marcado por confrontos entre jovens manifestantes e efectivos da Polícia Nacional, na zona da Vila do Gamek, em Luanda, com vários populares detidos.
Desde as primeiras horas da manhã, paragens apinhadas de gente e populares a caminhar pelas estradas foram o retrato de uma capital em sobressalto. Em zonas como o Rocha Pinto e o Nosso Centro do Gamek, observou-se a presença de alguns taxistas a operar, mas em número claramente reduzido.
Houve quem conseguisse lugar nos poucos táxis em circulação, cumprindo assim a sua rotina, mas a maioria não teve igual sorte: sem alternativa viável, muitos foram forçados a regressar a casa ou a percorrer longas distâncias a pé.
Na paragem do Nosso Centro do Gamek, em direcção à Vila, apenas um cidadão aguardava transporte por volta das 7h00. Já na paragem da Vila, sentido Rocha Padaria, não havia táxis, apenas um autocarro circulava.
Mulheres com crianças às costas compunham a paisagem urbana de um dia de caos.
“Chefe, terei de regressar, porque não consigo apanhar táxi”, ouvia-se de uma cidadã ao telefone, enquanto a nossa equipa cobria os acontecimentos na pedonal da Vila do Gamek.
“Você já viu uma mãe nesta situação? Vou começar a sair da Ponte Partida a pé para ir trabalhar? Isto é justo?”, questionou a nossa equipa de reportagem, indignada, uma senhora de 41 anos, que não conseguiu trabalhar esta segunda-feira, 28 de Julho, e que, apesar disso, mostrou-se solidária com a paralisação.
“Apelo que continuem com o protesto até quarta-feira, para ver se baixam o preço do gasóleo”, declarou.
Outro cidadão, identificado como Filipe, reforçou:
“Hoje não se trabalha. Estamos solidários com os taxistas. Eles têm razão”.
Mototaxistas também aderem
Eduardo, um dos mototaxistas entrevistados, decidiu também suspender os seus serviços. Para ele, a alta do preço do gasóleo não só afecta o transporte como encarece os produtos no mercado.
“Queremos que os preços baixem para podermos trabalhar sem tantos constrangimentos”, afirmou, esperançado numa resposta do Executivo.
Jovens exigem paralisação total
O ambiente aqueceu na Vila do Gamek. Jovens vindos da Maianga e do Kilamba Kiaxi, exigiam que os táxis e mototáxis ainda em circulação retirassem os passageiros.
A tensão subiu quando a polícia interveio, tentando dissuadir os jovens e permitir a livre circulação dos profissionais do volante, uma posição que não foi bem recebida pelos populares.
Com a situação a fugir ao controlo, alguns manifestantes começaram a bloquear as vias com pneus e contentores de lixo, numa tentativa de impedir a circulação automóvel. A Polícia Nacional não permitiu, e os confrontos agravaram-se.
Violência, gás lacrimogéneo e barricadas
A tensão explodiu em confrontos directos: pneus a arder nas estradas, barreiras improvisadas e lixo em chamas transformaram ruas em campos de batalha.
Os jovens, determinados, exigiam uma adesão total à greve. A polícia, por seu lado, teve de reforçar a presença no terreno com efectivos da Unidade de Reacção e Patrulhamento, Polícia de Intervenção Rápida, e até uma viatura do SIC e das Forças Armadas Angolanas.
Gás lacrimogéneo foi usado para dispersar os manifestantes, que se refugiavam nos bairros adjacentes, mas regressavam em maior número assim que os agentes recuavam.
A nossa equipa de reportagem também foi afectada: lágrimas a escorrer, ardor nos olhos, irritação nasal, sensação de queimadura e sufoco. Os sintomas da exposição ao gás não pouparam ninguém.
O caos instalava-se. O fumo dos pneus incendiados era cada vez mais denso. Os disparos, intensos. As sirenes, constantes e mesmo com o reforço policial, a tensão não cedia.
Confudido com agente à paisana
Durante a cobertura, um cidadão que se encontrava entre os manifestantes foi confundido com um agente à paisana. Acabou por ser revistado. Ao perceberem que não estava armado e os jovens deixaram-no seguir com os pertences intactos.
Sorte ou milagre?
Uma viatura, retratada na imagem captada pela nossa equipa, foi alvo de arremesso de pedras e outros objectos, mas escapou ilesa.
Vandalismo e descontentamento popular
A paralisação dos taxistas, motivada pelo aumento do preço dos combustíveis e das tarifas, tem sido acompanhada por actos de vandalismo em vários municípios de Luanda.
Jovens que dizem estar solidários com os taxistas têm protagonizado actos de violência contra bens públicos e privados, num cenário de tensão social crescente.