CORRIDA AOS BENS ALIMENTÍCIOS APÓS PARALISAÇÃO DOS TAXISTAS NUM CENÁRIO DE ESPECULAÇÃO DE PREÇOS

Após a greve dos taxistas que paralisou Luanda, os cidadãos provenientes de vários bairros da capital acorrem ao mercado do Catinton, em busca de bens alimentícios, numa altura em que se regista uma acentuada subida dos preços e se instala um ambiente generalizado de especulação.

CORRIDA AOS BENS ALIMENTÍCIOS APÓS PARALISAÇÃO DOS TAXISTAS NUM CENÁRIO DE ESPECULAÇÃO DE PREÇOS

O cenário, caótico e ansioso, reflete o receio de escassez provocado pela crise no sector dos transportes e a previsão de uma nova paralisação.

Subida repentina de preços

Moradores e consumidores denunciam que vários comerciantes e estabelecimentos aproveitaram a situação para inflacionar os preços dos produtos da cesta básica.

O saco de arroz de 25 kg, que até à semana passada custava entre 15 a 16 mil kwanzas, está agora a ser vendido a 18 e até 19.500 kwanzas, sendo que em algumas zonas chega aos 20 mil kwanzas.  O mesmo acontece com outros produtos, como o sal, o vinagre e até a tradicional caixa de abacate.

“É melhor a população prevenir-se. Se os homens dos volantes pararem mesmo durante sete dias, ao menos teremos comida em casa até a situação acalmar”, narrou uma das comerciantes.

Impacto da vandalização

Com a vandalização de alguns hipermercados durante os protestos, muitas famílias perderam acesso aos seus locais habituais de compra. Agora, voltam-se para o mercado 1º de Agosto, vulgo Catinton, que se tornou o principal ponto de abastecimento para milhares de famílias.

“Eles tinham mesmo de chegar até aqui. Só assim conseguem pôr um prato de funge para os filhos”, declarou uma vendedora do mercado.

A comerciante Maria Tavares reforçou que as pessoas estão preocupadas, por receberem informações que vem aí mais uma paralisação dos taxistas  e querem garantir alimentação.

 “Até as senhoras que vendem a retalho aumentaram os preços”, disse.

Comércio especulativo e desconfiança generalizada

Várias vendedoras reconhecem que os preços dispararam subitamente. Uma delas, que preferiu o anonimato, declarou que antes dos dias 28 e 30 de Julho, o arroz custava 16 mil kwanzas, sendo que actualmente em alguns armazéns está a 20 mil kwanzas, 25 quilos.

“Não se sabe se é por causa da manifestação ou se foi o dólar que subiu”, disse num ambiente de incertezas.

Outra vendedora, visivelmente indignada, acusa os proprietários de armazéns de especulação.

“Estão a aproveitar-se da situação. Estes produtos foram comprados antes da greve, a um preço mais baixo. Agora vendem como se o stock tivesse vindo de Marte.”

Segundo a mesma fonte, os preços variam até ao longo do dia.

Por exemplo, de  manhã, uns vendem  o quilo de arroz a 600 kwanzas. Já no período da tarde, pode custar até 1000 kwanzas.

Fósforos e vinagre com preços de luxo

Filomena, vendedora de sal, vinagre e fósforos, partilha a sua surpresa com os novos valores.
“O saco de sal passou de 2.800 para 3.500 kz. O vinagre, que custava 850, agora está a 2000 kwanzas. Uma grossa de fósforo já está a mil kwanzas! E acredito que vai subir mais.”

Medo como combustível da inflação

Serafim, outro cidadão ouvido pelo Portal Ponto de Situação, considera injusta a actuação dos comerciantes e justifica que uns estão aproveitar-se das informações sobre manifestações em curso.

O comprador, disse que uma caixa de abacate que custava 1000 kwanzs também disparou aumentou e recomenda aos demais utentes, a terem paciência em entrar em diversos armazéns.

A incerteza social, alimentada por  manifestações anunciadas e  especulação comercial, está a pôr milhares de famílias em situação de desespero. O mercado do Catinton tornou-se o espelho dessa Angola urbana onde o medo e a fome caminham de mãos dadas, e onde o prato de funge se transforma num luxo cada vez mais difícil de conquistar.

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