PAUL BIYA LIDERA CAMARÕES ATÉ AOS 96 ANO
Aos 92 anos, Paul Biya continua a ser o chefe de Estado mais antigo em funções no mundo. Após conquistar um oitavo mandato em eleições fortemente contestadas, o veterano líder dos Camarões poderá governar até aos 96 anos.
Mesmo sob críticas internas, incluindo da filha, Biya mostra-se decidido a não largar o poder que ocupa desde 1982.
Os resultados oficiais das eleições de 12 de Outubro deram vitória a Biya com 54% dos votos, contra 35% de Tchiroma.
O anúncio, feito na segunda-feira, surpreendeu uns e desanimou outros.
Camarões continua a figurar entre os países mais corruptos do mundo, segundo a Transparência Internacional, com uma população de cerca de 30 milhões de pessoas mergulhada entre repressão política e estagnação económica.
Organizações internacionais descrevem Paul Biya como um líder distante, que leva uma vida de luxo e passa longos períodos no estrangeiro.
De acordo com uma investigação do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), entre 1982 e 2018, o presidente passou pelo menos quatro anos e meio em viagens particulares, sobretudo na Suíça.
A Reuters acrescenta que só entre 2024 e 2025, o chefe de Estado esteve ausente do país durante 42 dias.
“Biya tem agora um mandato notavelmente instável, dado que muitos dos seus cidadãos não acreditam que ele tenha ganho as eleições”, afirmou Murithi Mutiga, director do International Crisis Group.
“Pedimos que inicie uma mediação nacional para evitar uma maior escalada”, apelou.
Nascido numa aldeia do sul dos Camarões, no coração da selva equatorial, Paul Biya foi educado por missionários católicos, que sonhavam vê-lo padre, mas o destino levou-o para a Universidade de Paris, onde estudou Direito e Ciências Políticas, antes de regressar à administração pública do seu país.
De temperamento discreto, foi subindo até conquistar a confiança do então presidente Ahmadou Ahidjo, de quem se tornou primeiro-ministro por sete anos.
Quando Ahidjo renunciou, em 1982, Paul Biya assumiu o poder e rapidamente eliminou os aliados do antigo líder, enviando-o para o exílio.
Desde então, sobreviveu a duas tentativas de golpe de Estado e consolidou uma reputação de estratega silencioso, firme e quase impenetrável, o que lhe valeu o apelido de “homem-leão”, em alusão aos “Leões Indomáveis”, a célebre selecção camaronesa do Mundial de 1990.
Parte do enigma Paul Biya reside também na sua segunda esposa, Chantal Biya, 38 anos mais nova, com quem se casou em 1994.
Famosa pelo cabelo cor de fogo, o carácter exuberante e o trabalho beneficente, Chantal é conhecida pela imprensa como a “Rainha dos Corações” .
O casal, que tem dois filhos, chegou a ter um leão e uma leoa baptizados com os seus nomes no zoológico Mvog Beti, em Yaoundé. Ambos são conhecidos pelo estilo de vida luxuoso, dentro e fora do país, que é um dos principais importadores de champanhe francês em África.
A figura mais inesperada deste longo reinado é a filha do casal, Brenda Biya, 28 anos, artista e rapper sob o nome King Nasty, residente em Genebra.
Pouco depois, publicou no TikTok um vídeo a pedir que não votassem no pai, mas acabou por apagar e pedir desculpa.
Entre polémicas e luxos partilhados nas redes, Brenda rompeu com a família e declarou independência financeira.
Ao longo de quatro décadas, Paul Biya sobreviveu a crises, sanções e revoltas. Entre os poucos méritos reconhecidos estão a expansão da rede escolar e universitária e a resolução da disputa da península petrolífera de Bakassi com a Nigéria.
Sob o seu governo, os Camarões vivem há quase uma década mergulhados numa insurgência separatista nas regiões anglófonas do Oeste, enquanto o grupo islâmico Boko Haram impõe terror no Norte.
O desemprego juvenil ultrapassa 40%, e as infra-estruturas públicas degradam-se.
A liberdade de expressão continua a ser, para muitos, apenas uma miragem.














































